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quinta-feira, 28 de agosto de 2008

As lições dos Jogos para o Brasil (2/2)

(continuação)
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..... "COB defende o trabalho que vem sendo feito desde 2001. Até então, vivia de migalhas cedidas pelo governo federal. A participação nos Jogos de Sydney, em 2000, foi custeada graças à liberação de última hora de R$ 10,5 milhões. A vida do COB se transformou em 2001, com a aprovação de uma nova lei que destina 2% da arrecadação das loterias aos esportes olímpico e paraolímpico. Hoje isso representa cerca de R$ 85 milhões. Somem-se a esse total, a partir deste ano, mais de R$ 25 milhões provenientes de outra lei, recém-sancionada, a de incentivo fiscal, que permite às empresas abater Imposto de Renda apoiando projetos esportivos.
..... Antes da lei, o COB não tinha quase nenhum poder sobre as confederações esportivas. Seu papel era quase exclusivamente organizar a delegação olímpica.
..... Cada esporte mendigava seus patrocínios. Com o dinheiro proporcionado pela loteria, muitas modalidades passaram a ter recursos com que jamais haviam sonhado. A que mais se beneficiou, provavelmente, foi a ginástica artística. A seleção permanente formada em Curitiba, em 2004, produziu Daiane dos Santos e Jade Barbosa. Em outros esportes, porém, não se viu nenhuma evolução.
..... Anualmente, o COB publica em seu site uma apresentação com a prestação de contas da aplicação dos recursos. Nesse documento se vê uma falha grave da lei: ela não obriga o COB a fixar metas claras de resultado. Como conseqüência, muitas modalidades recebem dinheiro há sete anos, mas seus resultados não evoluem. No documento de 2007, o nado sincronizado brasileiro relacionou entre as “metas atingidas” que “participou das finais do Campeonato Mundial, obtendo resultados bastante significativos”. É muito vago e muito pouco para justificar o recebimento de recursos que poderiam ser destinados a áreas mais carentes. O COB também é criticado por destinar uma parcela significativa do dinheiro à própria manutenção. Em 2007, foram R$ 23 milhões dos R$ 85 milhões. Compare-se esse valor à receita anual da Associação Olímpica Britânica, o equivalente do COB no Reino Unido: R$ 22 milhões.
..... Mudar a lei para torná-la mais rigorosa, é, portanto, o primeiro passo para que a fortuna proveniente das loterias e do incentivo fiscal possa ser fiscalizada mais de perto pelo público e pela imprensa. Hoje, é o Tribunal de Contas da União o responsável pela verificação do bom uso do dinheiro. Mais uma vez, o exemplo inglês é valioso. O dinheiro da loteria não é administrado pelo comitê olímpico nacional, e sim pela UK Sport, um órgão vinculado ao governo que existe expressamente para cumprir essa função. O site da UK Sport detalha a aplicação de recursos e estabelece metas para cada esporte. Tome-se como exemplo o ciclismo. Entre os Jogos de Atenas, em 2004, e os de Pequim foram investidos R$ 67 milhões da Loteria Nacional nesse esporte. Desse total, R$ 35 milhões foram para atletas com chance de medalha olímpica em Pequim (24 atletas), R$ 28 milhões para jovens com potencial para os Jogos de Londres, em 2012 (49 atletas), e R$ 4 milhões para a detecção de talentos precoces. Foi estabelecida a meta de seis medalhas em Pequim. Os ciclistas britânicos voltaram com nada menos que 12 medalhas: sete de ouro, três de prata, duas de bronze.
..... O sucesso da China e da Grã-Bretanha nos Jogos de Pequim teve um impacto direto sobre o resultado do Brasil. Em alguns esportes, chineses e britânicos tiraram brasileiros do pódio ou fizeram-nos descer um degrau. Foi o caso da vela, em que Robert Scheidt e Bruno Prada foram derrotados por Iain Percy e Andrew Simpson – a vela de alto nível britânica recebeu R$ 33 milhões nos últimos quatro anos – e do vôlei de praia, em que as chinesas Xue Chen e Zhang Xi derrotaram Renata e Talita na disputa da medalha de bronze. Não basta, portanto, pôr dinheiro e esperar que os resultados venham: é preciso fazer melhor que os outros. Mais detalhamento na prestação de contas e rigor na fixação de metas poderiam ajudar o Brasil a sair do patamar mediano em que estancou nos Jogos Olímpicos.
..... Com esse desempenho e apesar da vitória de Maurren Maggi, o Brasil sai de Pequim o mesmo número de medalhas de Usain Bolt, o jamaicano tríplice campeão olímpico em Pequim (100, 200 metros e revezamento 4 x 100 metros). Não que a pequena Jamaica sirva de exemplo para nós. Trata-se de um país que decidiu se especializar num esporte só – o atletismo, mais especificamente as corridas de velocidade – e teve sucesso nisso. Como resultado, no quadro de medalhas de Pequim, ficou em 13o em medalhas de ouro.
..... O país que certamente entrará para a história olímpica é a China, que ganhou medalhas em 21 das 38 modalidades em disputa. Em alguns esportes, teve um inusitado domínio, como no judô (conquistou três de ouro e uma de bronze). Foi a ginástica artística que mais rendeu pódios aos chineses – 14, embora algumas dessas medalhas estejam sob ameaça. O Comitê Olímpico Internacional determinou à Federação Internacional de Ginástica que abra uma investigação sobre três ginastas da equipe chinesa campeã na prova feminina por equipes. Elas teriam menos de 16 anos e, suspeita-se, teriam competido com passaportes falsificados. O jornal americano The New York Times publicou evidências comprometedoras contra duas delas. O COI afirma ter recebido novas informações que justificam a investigação. A perda dessas medalhas era o único evento capaz de abalar o prestígio chinês adquirido nestes Jogos. Mas não tiraria a China do topo do quadro de medalhas, nem do panteão da glória olímpica."

PS - Leia o artigo no site original: As lições dos Jogos para o Brasil. Lá você encontrará mais fotos e outros links de complemento.

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