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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Mulheres no Comando, porque são tão poucas?


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Mulheres no Comando, porque são tão poucas?

(Autor- Herbert Drummond - Blog Oficina de Gerência)


“Mulheres em cargos de chefia” é um tema que sempre causa controvérsia. Não deveria, mas causa.

Devo registrar que no percurso da minha carreira profissional, com mais de 50 anos, ocupei diversas funções de chefia intermediária  e nos últimos 30 anos exerci cargos de direção superior na Administração Pública. Pois bem, nesse tempo todo, foram pouquíssimas vezes que encontrei funções de chefia ocupadas por mulheres.

Na verdade, nunca me dei conta disso; muito porque na minha profissão, antigamente (anos 60, 70, 80 e até metade da década de 90), as mulheres não buscavam cursar Engenharia Civil. Minha turma, de cerca de 120 formandos, só havia seis colegas do sexo feminino. Fato é que independente dessas circunstâncias as mulheres, à época, não tinham oportunidades de ascender nas funções de executivas, notadamente nas carreiras das chamadas ciências exatas.

Apesar da evolução dos cenários, com um número crescente de mulheres coexistindo com os homens nas corporações, elas ainda são pouco vistas nas reuniões de gerentes e diretores. Na alta cúpula então... são aves rarae.

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Trabalhando na Administração Pública desde 1983 posso atestar que as mulheres não podem sequer ser consideradas como minoria. Mesmo com o advento dos concursos públicos para admissão, os altos cargos de confiança (e até os médios também) ainda estão “reservados” para o sexo masculino. As mulheres são muito poucas, mesmo.

As legítimas pressões da sociedade, desde muito tempo, estão presentes pelas vias mais diversas – Associações, ONGs, sindicatos e outros –e percebe-se um esforço das empresas nesse sentido. Mas é tudo muito lento.

Tenho o tema sempre presente nas minhas preocupações como executivo e observador privilegiado do mundo corporativo. E tenho a consciência que consegui, sempre que viável, colocar mulheres para ocupar cargos executivos sob minha direção. Mas confesso que não atingi uma cota que julgasse satisfatória. Embora procurasse razões e justificativas não as encontrei.

Eis que me deparei com um artigo do renomado colunista da Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman intitulado “Incompetência masculina”. No texto o jornalista defende uma tese esposada pelo psicólogo Tomas Chamorro-Premuzic (University College London e Columbia) no seu livro “Why Do So Many Incompetent Men Become Leaders?” (Por que tantos homens incompetentes se tornam líderes?).
Schwartsman destaca do livro em tela o seguinte resumo defendido pelo autor: O argumento do livro é simples. Há poucas mulheres em posição de poder porque os critérios que usamos para escolher líderes estão errados. Se os corrigirmos, a proporção de mulheres crescerá rapidamente, e as empresas se tornarão melhores.
E justifica registrando que a responsabilidade da discriminação às mulheres em cargos de gerência e direção advém dos critérios que as empresas utilizam para selecionar suas lideranças. Tais critérios, segundo o autor, promovem e preenchem os cargos de alta direção com homens de traços narcisistas e psicopatas/sociopatas que tornam tóxicos os ambientes corporativos. Tem mais! O livro informa ainda que “O sistema de contratação nas empresas não percebe essa falha porque candidatos narcisistas e psicopatas (categorias em que há notável predomínio masculino) tendem a ser carismáticos e charmosos e saem-se especialmente bem em entrevistas, que são uma das principais ferramentas de recrutamento dos RHs.”
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E agora? O que fazer para corrigir essa, digamos, falha (monumental) do sistema? O Dr. Tomas Chamorro-Premuzic dá uma sugestão: as corporações devem modificar seus conceitos que favorecem aqueles candidatos carismáticos e sedutores narcisistas-sociopatas e buscar líderes entre pessoas com alto grau de inteligência emocional.
Nesse ponto o autor, que fundamenta seu livro em trabalhos científicos, faz uma conclusão meio forçada (a meu ver). Diz ele que se o recrutamento adotar essa nova postura as mulheres serão naturalmente (?) favorecidas porque são elas que estão, em maioria, no grupo “com alto grau de inteligência emocional”.
Acho que o argumento tem seu valor quando aponta que as escolhas nos recrutamentos dos RHs “privilegiam” - é fato - os perfis cativantes, extrovertidos, magnéticos e sociáveis. Vamos concordar que nesses campos os homens, por serem mais agressivos em seus contatos corporativos, tendem a levar vantagem sobre o charme e outros atributos femininos; ainda mais partindo do princípio de que o sistema já está pervertido pelos usos e costumes. Vira um “jogo de cartas marcadas”.
Torço para que algo seja feito no sentido de aumentar de forma expressiva e massiva a presença das mulheres nos comandos das organizações. Sou daqueles que considera – no atual status quo do mundo corporativo – que as mulheres realmente dominam melhor as ferramentas da IE (Inteligência Emocional). E cada vez mais é exigido que os lideres tenham essa competência como dominante em seus modi operandi.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Sabe aquele botãozinho do "On"/"Off" ? Você sabe usar o seu?


Páginas e páginas de estudos, pesquisas e livros são escritas todos os anos  sobre a síndrome dos "workaholics". Em algum momento dos períodos mais badalados da ciência da administração e gerência ser "qualificado" como um "viciado em trabalho" era considerado como mérito no currículo. 

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoOiEM4Rd4eMv_NVnT-uwKPYqXe82HTR6TyvN5McqOJb524okp62wuizxGLxXmjtF5Z-wFyLqV1J9OlKuS3CyNnWhA4IVZyYztvgAMiU-aaC1raGqQ0GbiFx3ptPnIvsCyA2hEtwKvlHOX/s400/ampulheta.jpgEu mesmo conheci um médico que fazia parte da equipe de recrutamento de uma corporação multinacional que tinha a orientação superior de "descobrir" entre os candidatos aqueles que apresentavam características de ansiedade, perfeccionismo e outras semelhantes àquelas dos trabalhadores compulsivos. A estes era concedido uma espécie de bônus que aumentava suas chances de contratação. Isso foi lá pelos idos de 1975 de acordo com minha memória. Olha o absurdo! Não diria que atualmente essas coisas ainda aconteçam, mas não ficaria surpreendido se, aqui e ali, ainda existirem algumas empresas "sobreviventes" e adeptas dessa cultura e metodologia.

O fato é que ainda existem incontáveis seres humanos que simplesmente não conseguem desligar-se do seu universo de trabalho, mesmo nos finais de semana ou quando tiram férias. Pior, não sabem o que fazer quando são "obrigados" a gozar seu período de férias. Fazem de tudo para não abandonar o ambiente do trabalho. E o pior é que se são gerentes impõem essa crueldade aos subordinados. Há toda uma ciência que trata - inclusive - clinicamente desses casos.

Conheço bem o assunto. Durante muitos anos, no início da minha trajetória profissional, fui o que pode ser considerado um perfeito workaholic. Todas as características que identificam uma compulsão eu as possuía. Havia, entretanto um atenuante. Eu era solteiro  e ocupava a função de engenheiro-chefe de uma obra grande (400 empregados) em uma cidade que não possuía nem energia elétrica. Dá para entender um pouco dessa  obsessão de primeiro emprego, de só pensar em trabalho e mais nada. Além do mais eu adorava estar ali, naquele momento, realizando o meu sonho que era chefiar uma expressiva obra de engenharia.
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Força que impulsiona 
Acho que essa é uma das forças impulsionadoras do workaholic. Gostar muito do que faz, ter um enorme prazer em realizar suas tarefas a cada dia, desfrutar do sucesso que o êxito traz em seu bojo... Sim, acho que uma das causas mais frequentes dessa compulsão é o gosto pelo êxito, pelos resultados alcançados. Na verdade, para não dizer nunca, pouco ouvi falar de um workaholic perdedor. Você já ouviu? 

http://4.bp.blogspot.com/_RFj5KnF6sl0/SlJB7vVpD3I/AAAAAAAABnw/9jec7Bkt7gE/s320/Result_of_STRESS_by_CLEMZ.jpg
A questão é que com o passar dos tempos a compulsão leva  celeremente ao stress e às síndromes decorrentes. Livrar-se ou controlar este "vício" é hoje uma das maiores preocupações da medicina do trabalho aí incluindo a psicologia, a psiquiatria e todas as "trias" que se puder imaginar. 

Atualmente um trabalhador consciente, esclarecido e informado - seja o operário comum ou o chefão -  não se deixa mais dominar pela dopamina que está por trás de todas essas sensações de prazer que os viciados em trabalho sentem. Até as corporações estão contribuindo para orientar os potenciais workaholics de seus quadros a procurar terapias de ajuda ou  oferecer alternativas para "desligá-los" da empresa nos seus períodos de férias, fins de semana e feriados.

Volto ao meu caso pessoal para encerrar o post. Hoje - e já faz muito tempo - não sou mais um "viciado em trabalho". Minha "cura" se deu a partir do momento em que consegui perceber que o mais importante da vida é o tempo que dedicamos à família, aos amigos e aos afazeres fora do trabalho; hobbies, leituras, passeios...

Uma das coisas que mais me ajudou foi quando ao ser exonerado da minha primeira grande função de direção percebi que nada daquele dia-a-dia tão estressante, daquele cotidiano - de tantas disputas, intrigas e egolatrias - tinha valor quando se ficava "desempregado".
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Falso brilho 
As "missões", os sucessos, os "amigos" e colegas, os projetos, os chefes e subordinados, as histórias e fofocas do trabalho, os aborrecimentos e mesmo as alegrias, nada disso tem valor quando simplesmente abandonamos, de forma definitiva, o foco de nossa compulsão pelo trabalho. O valor do trabalho está exatamente no que existe lá, no ambiente corporativo. Fora dali a vida é outra e nada do que venha de lá é valioso do lado de cá, do lado da vida normal.

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/imagens/010115111130-pirita.jpg
Pirita, o "Ouro dos Trouxas"
Acho que é por conta desse processo que a compulsão se instala nos workaholics. Eles não vislumbram que o brilho da vida dedicada exclusivamente ao trabalho é falso. Parece-se com o brilho do que os garimpeiros chamam de “ouro dos tolos”. Perdem aquilo que é mais valioso na vida de qualquer um. Família, filhos, netos, amigos, lazer, hobbies...

Essa é a verdade incontestável que, ao fim e ao cabo das jornadas dos viciados em trabalho, aparece com todas as suas tenebrosas cores. E não adianta dizer que o processo é temporário, pois quando se instala em nossas vidas é difícil de extrair. Lembrem-se que está diretamente ligado ao sucesso, ao status profissional, aos melhores ganhos financeiros e à melhoria da (falsa) qualidade de vida. Como largar tudo isso?

O artigo abaixo, que utilizo como ilustrativo do post , é um bom texto para que cada leitor – workaholic ou não – possa refletir sobre tudo isso e identificar para onde está caminhando sua vida.

Clique no logotipo e conheça o artigo no original, se tiver interesse.

Profissionais que não desligam

(por Wellington Moreira*) 


A maior parte das pessoas sabe a quantidade de horas diárias que permanece em seu local de trabalho, no entanto você já parou pra  contabilizar o quanto do restante do dia fica pensando nele mesmo distante da empresa?
Resultado de imagem para Profissionais que não desligamÉ que muita gente não termina o expediente quando o expediente termina. Pessoas que têm dificuldades para aproveitarem o tempo disponível ao convívio familiar e ao merecido descanso porque vão para suas casas com a mente focada nos relatórios inacabados e nos e-mails que precisarão responder na manhã seguinte.
As exigências do mercado de trabalho atual têm consumido o tempo psíquico de muitos profissionais, especialmente daqueles que precisam cumprir prazos exíguos e alcançar metas desafiadoras em seu dia a dia. Ou seja, há uma boa parcela de pessoas que não consegue se desligar do trabalho de jeito nenhum, ainda que estejam operacionalmente longe dele.
Trabalhadores que vivem numa espécie de “prisão psicológica” que influencia as demais esferas da sua existência e os impede de  desfrutarem momentos com a família e amigos ou mesmo de fazerem aquilo que apreciam por causa das preocupações relacionadas com os deveres profissionais. E que erroneamente racionalizam: “Como aproveitar o domingo quando sei que o bicho vai pegar na segunda-feira e ainda não estou pronto?”.
Resultado de imagem para workaholicSe esta é a sua história de vida, é bem provável que apresente dois comportamentos: o hábito de procrastinar as coisas e um míope senso de responsabilidade. Aquela velha história de valorizar o trabalho duro, mas também de adiar alguns afazeres para a próxima segunda-feira e então passar o final de semana inteiro preocupado com a tarefa que poderia ter feito antes se tivesse administrado melhor o tempo.
Desligar-se do trabalho fora do expediente é fundamental para conservar uma vida saudável e equilibrada, porém este intento talvez seja incompatível com o seu projeto de carreira. Caso tenha a pretensão de chegar à presidência de uma grande companhia durante os próximos anos, por exemplo, terá de renunciar a uma série de coisas ou não atingirá seus objetivos. Por isto, avalie bem se está  disposto a pagar o preço.
Vários daqueles que chegaram lá têm dúvidas se valeu a pena, mesmo que financeiramente estejam bem. Foi o que apontou uma recente pesquisa da consultora Betania Tanure com mais de mil executivos das maiores companhias do país na qual 75% deles afirmaram estar insatisfeitos com o seu trabalho. Dois dos motivos: 85% dos presidentes e diretores trabalham todos os finais de semana e suas férias não superam, em média,  dez dias.
De forma geral, cada vez mais a divisão entre vida pessoal e profissional vai perdendo sua força e os próprios trabalhadores têm  uma grande parcela de responsabilidade. Quando você aceita que a empresa  aonde atua lhe pague a conta do aparelho celular pessoal e conceda acesso remoto à internet em sua casa, também está permitindo que ela o contate a qualquer hora, mesmo nas mais indesejadas.
Imagem relacionadaMas, discussões à parte, qual a estratégia para se desligar do trabalho quando estamos distante dele? Parece-me que a mais eficaz é  encontrarmos formas de realização pessoal nas demais dimensões da vida. Se você prestar atenção nas pessoas que se dedicam a uma causa ou investem tempo num hobby verá que elas geralmente não têm este tipo de problema e que, em vários casos, ainda conservam carreiras bem-sucedidas.
Por isto, não se sinta mal quando perceber que ficou o final de semana inteiro sem pensar em trabalho nem tampouco se martirize só porque aproveitou o último feriado prolongado fazendo outras coisas de que gosta. Com um pouco de organização pessoal e ciência daquilo que realmente importa na vida esta pode ser a sua rotina daqui pra frente.


Minha foto*Autor: Wellington Moreira – Palestrante e consultor empresarial nas áreas de Desenvolvimento Gerencial e Gestão de Carreiras, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é especialista em Comunicação Empresaria. wellington@caputconsultoria.com.br.
Fonte: http://www.caputconsultoria.com.br

 


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Oliver Twist de Charles Dickens - mudou a crítica social


N
avego na Internet e dou de cara com o Obvious (clique no link abaixo) que se apresenta como "O maior site de cultura colaborativa em lingua portuguesa. Tudo sobre cultura, criatividade, artes, letras, design, fotografia, cinema, arquitetura, música, humor, ...". Concordo plenamente. O Obvious é especial. Eu o acompanho há uns 9 anos.
Como disse, deparei-me com um artigo sobre Charles Dickens (também tem link para ele logo abaixo) que me chamou a atenção porque tocou no assunto "crianças". E logo na primeira frase do texto eu já "comprei" a leitura e não me arrependi. O que li?
  • "Dickens levou toda uma sociedade à reflexão por meio de estórias de simples garotos, carentes no sistema, carentes de relações. Com sua literatura, ele não somente abriu caminhos para a crítica social – por meio de seus próprios traumas – como reencontrou sua infância perdida, criando a partir dela muitas outras infâncias com as quais pôde expressar seus medos, segredos e esperanças de garoto.
Conheço de Charles Dickens o que todos os curiosos por cultura conhecem. De livros só li o "Oliver Twist" e vi o filme; mas não estou aqui para falar de Charles Dickens.

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O que me despertou a atenção no texto do Obvious, foi a informação que o autor inglês da era vitoriana (meados do século XIX, de junho de 1837 a janeiro de 1901) contribuiu fortemente para a introdução da crítica social na literatura de ficção inglesa despertando e provocando a conscientização da influente sociedade britânica na Europa e no mundo. E isto ultrapassou as fronteiras da Grã-Bretanha e ganhou o mundo também inspirando intensamente as culturas dos países de língua inglesa.
A pergunta que deixo no ar, para reflexão, é porque em nosso país, onde as mais diversas formas de mazelas sociais batem à porta todos os dias, não conseguimos produzir autores, artistas e figuras públicas com a força de um Dickens para desenvolver um processo de "crítica social" principalmente em relação à proteção da infância? 
Falta-nos essa energia, que deveria vir da cultura em geral e da literatura em particular, que consiga - pelo menos - sensibilizar nossa sociedade mais favorecida a prestar atenção ao que está acontecendo com a infância e a juventude do Brasil. Jogamos tudo nas costas dos governos e fingimos que não estamos enxergando os horrores que vemos, ouvimos e lemos nas mídias diuturnamente. 
Convido-os a ler o artigo abaixo, para conhecer o que Charles Dickens fez para modificar comportamentos sociais na sua época.


Clique na figura e conheça o Obvious (vale a curiosidade )

Os Garotos de Charles Dickens

Dickens levou toda uma sociedade à reflexão por meio de estórias de simples garotos, carentes no sistema, carentes de relações. Com sua literatura, ele não somente abriu caminhos para a crítica social – por meio de seus próprios traumas – como reencontrou sua infância perdida, criando a partir dela muitas outras infâncias com as quais pôde expressar seus medos, segredos e esperanças de garoto.


Quão extraordinário e poderoso é o dia em que a infância se vai? O dia em que o menino dá boas-vindas ao homem? Para Charles Dickens esse dia foi tão determinante que o levou a criar grande parte de suas personagens como sendo verdadeiras personificações deste sentimento. E quase toda a sua obra faz referência a essa circunstância que se relaciona com todas as outras variadas conjunturas da juventude dramática do escritor.

Oliver Twist, David Copperfield, Nicholas Nickleby, Philip Pirrip – o que estes personagens de Charles Dickens têm em comum? São jovens que passam por adversidades, sendo obrigados a, precocemente, ir ao encontro dos encargos da difícil e impiedosa vida adulta. Eles são os alteregos de Dickens, uma expressão da personalidade do autor.


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Dickens é considerado, ao mesmo tempo, realista e romântico. Realista porque tratava de fatos da época e da sociedade em que viveu, de maneira incisiva. Teve uma infância violada. Sua família era economicamente estável, o que lhe proporcionou um excelente nível de educação. Mas seu pai perdeu o controle das dívidas e foi preso, obrigando sua família a mudar-se para a periferia de Londres. Coube ao pequeno Charles sustentá-la aos dez anos, trabalhando em uma fábrica de graxa para sapatos. 

Precocemente, Charles Dickens viu sua infância se esvair como névoa para dar lugar às responsabilidades adultas. Mas Dickens também é romântico, pois apesar de ressaltar tantas dificuldades, suas personagens sempre tinham um encontro feliz com o destino que os redimia das maneiras mais improváveis. 

Assim como na própria vida de Dickens aconteceu que, anos após a prisão de seu pai, sua família herdou uma herança – possibilitando o pagamento das dívidas – o que trouxe novamente uma vida financeiramente estável. Porém, a mãe de Charles Dickens recusou-se a tirá-lo do emprego na fábrica. Este fato amputou, definitivamente, a infância do escritor que, anos mais tarde, afirmaria jamais perdoar sua mãe.

Sendo obrigado a trabalhar, Dickens viu de perto uma sociedade inglesa sádica e corrupta, falha em todas as assistências ao trabalho operário. Juntou a isso o sofrimento de sua família, endividada, presa e humilhada por um sistema carcerário injusto. Dickens começa a escrever, criando personagens que passaram por tais situações - personagens jovens, fortes, que falariam em seu lugar. 

Temas como a pobreza, um sistema educacional deficiente, um sistema jurídico corrompido, a falta de auxílio à orfandade de uma Londres arbitrária, com leis débeis, que fechavam os olhos à exploração infantil e às más condições de trabalho, fazem da obra de Dickens uma das mais ácidas em criticar a sociedade da era vitoriana, apoiando-se em sua própria realidade. 

Suas personagens são formas e vozes dessas suas críticas. Dickens revelou-se um inconformista que conquistou o público burguês – o que conseguiu apenas porque foi inteligente e dominou seu ímpeto revolucionário. Sabia que não era função dele incitar um sentimento de frustração, e sim de suas personagens. Foi o caso de sua primeira obra crítica, The Pickwick Papers, e depois de Oliver Twist, Nicholas Nickleby, A Christmas Carol, David Copperfield, Black House ou Great Expectations, entre outros.


Charles Dickens, nascido em 1812, fica atrás apenas de Shakespeare em número de obras reproduzidas, seja para teatro, cinema ou televisão. É considerado por muitos o maior romancista da língua inglesa de todos os tempos. Suas novelas foram marcantes para uma época que não formou apenas opiniões, mas acrescentou à língua palavras e à sociedade formas de pensar o mundo. A delicadeza de sua pena romântica contrastou com a fúria de uma alma inconformada, resultando em uma das obras mais aclamadas da literatura mundial.

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