A
|
chei
essa imagem ao lado no site do "Logoblogstore" e resolvi
utilizá-la para marcar esse post. Foi no fundo do meu baú de artigos
corporativos que fui buscar esse texto no post.
Eu
o tinha copiado em 1997 quando exercia função de diretor em uma empresa
pública. Desde sempre tive o hábito de colecionar artigos de publicações
corporativas e distribuí-las entre meus gerentes e colegas de trabalho mais
próximos. Aproveitava-os para criar discussões e transmitir mensagens além de
receber feedbacks da equipe.
Esse
texto do consagrado jornalista, consultor e escritor Fábio Steinberg foi publicado
naquele ano e fez enorme sucesso. Nem imaginei, pelo tempo (15 anos) que o
encontrasse na internet, mas mesmo assim fui lá conferir e o localizei no site
da revista Exame.
Depois
que Steinberg escreveu o artigo - ele é o criador da expressão
"ratocorp" - surgiram vários outros utilizando o mesmo conceito e até
a mesma terminologia (clique
aqui). Acho até que já merecia um registro na Wikipédia.
Como
o artigo é muuuiiito antigo, mas continua tão atual quanto são eternos os
"ratocorps" nas corporações, imediatamente resolvi postá-lo na
Oficina de Gerência. A verdade é que essas "figuras" são reais nos
ambientes de trabalho. Fazem parte da paisagem e é forçoso conviver com
eles. No serviço público é o ambiente propício aonde eles se proliferam e se multiplicam

É
isso ai. Conheçam o artigo que é muito bem escrito. Como faço habitualmente
coloco abaixo um breve trecho retirado do artigo que tem o intuito de motivar a
continuação da leitura.
- [...] O ratocorp tem objetivos de longo prazo. Entende que, pela própria dinâmica da operação de uma empresa, ninguém sozinho consegue saber tudo ao mesmo tempo. Por isso, precisa se municiar ao máximo de informações privilegiadas para, quando chegar a hora, exercitar plenamente o poder, mas sempre de forma indireta."[...]
Você conhece os ratocorps?
Eles estão em todas as organizações. São simpáticos, sabem agradar às pessoas... Ih, tem um deles roendo uma parte de seu salário bem agora
Autor: Fábio Steinberg* - Revista Exame
Ratos corporativos, ou ratocorps - como a eles poderiam se
referir especialistas no assunto -, existem em todas as organizações.
São parte inerente do próprio ambiente empresarial, pois nele nascem,
crescem e dele se nutrem. Ali historicamente encontram calor, proteção e
excelentes condições de desenvolvimento.
Não pense que a voracidade do ratocorp o
torna antipático ou mesmo odiado pela maioria dos colegas. Pelo
contrário. Ele é geralmente muito charmoso e sabe agradar às pessoas -
pois depende disso. Por isso, os seus pares nutrem por ele enorme
carinho e admiração, como se fosse um mascote especial. O seu desempenho
abaixo da crítica será sempre relevado e jamais visto como má-fé.
Afinal, as atitudes que ele vier a adotar estarão sempre ancoradas na
funcionalidade, dentro da mais perfeita transparência administrativa.
As imagens que estão no texto acima não existem no artigo original. Foram colocadas pelo blog Oficina de Gerência exatamente para ilustrá-lo e dar um pouco de leveza na leitura do texto que é um tanto ou quanto longo.
É autor dos livro O Maestro ( Editora C4 / It Books) e Ficções Reais (editora Campus) e colaborou ainda em A Organização Por Trás do Espelho – Reflexos e Reflexões, de Fela Moscovici (José Olympio Editora). Escreve com freqüência artigos publicados na imprensa. Foi responsável por uma coluna durante um ano na revista Exame, onde faz eventualmente resenhas de livros de negócios. Além de consultor, Fábio dedica parte do tempo a conferências sobre comunicação e gerenciamento de crises.

Bem, mas do que mesmo estamos falando? Não adianta procurar uma
explicação na melhor (ou pior) literatura de negócios, pois essa espécie
não consta oficialmente de nenhum compêndio. O pior é que, neste exato
momento, provavelmente existe um desses seres ao seu lado, sem que você
sequer se dê conta.
Um ratocorp típico é aquele sujeito de inteligência mediana, mas sem
chegar a medíocre, que passa na seleção da empresa muito mais pela sua
capacidade de repetir chavões e comportamento ambíguo do que pelos seus
méritos intelectuais ou criatividade. Ah, sim, geralmente domina o
idioma inglês e sabe se portar com discrição - ou seja, fica calado
sempre que possível para não dizer bobagem.
Tímido e assustadiço até
ganhar intimidade, suas características físicas peculiares (e principais
vantagens competitivas) são os olhos enormes, treinados para tudo
observar, e orelhas imensas, com um design perfeito para captar todos os
sons e sussurros.
A primeira coisa que um ratocorp faz, quando ingressa na empresa, é
aprender tudo sobre seus manuais e procedimentos, hábitos e
idiossincrasias. Ele sabe que essas serão as futuras armas e ferramentas
de trabalho. Intuitivamente, segue com rigor a burocracia e o
formalismo, pois assim não corre riscos e garante nunca ser acusado de
não cumprir com o seu dever corporativo.
Enquanto os demais colegas dão sangue e suor à operação, procurando
dominar técnicas e colocar em dia o trabalho para o qual foram
contratados, o ratocorp gasta energias em coisas bem menos produtivas,
mas muito mais efetivas para a sua carreira. Observador atento,
dedica-se a descobrir, por exemplo, quem exerce o verdadeiro poder,
quais são as agendas ocultas ou os momentos críticos para aparecer à
frente dos diretores. Tem a capacidade de ignorar, mas com muita classe,
o chefe imediato, pois seu olhar está sempre focado em dois ou,
preferencialmente, três níveis hierárquicos acima do seu
PARECE WORKAHOLIC

Ele parece clonar o comportamento em seu outro colega famoso, o rato
Mickey, que, apesar de roedor, é também relações-públicas da Walt Disney
e amado pela humanidade há várias gerações.
Com o tempo, o ratocorp ganha intimidade com a empresa que o abriga,
desde o porteiro até o presidente. Age muito bem nos bastidores, seu
verdadeiro hábitat. Depois do expediente, quando se sente mais à
vontade, caminha com enorme desenvoltura, embora silenciosamente, por
qualquer corredor ou sala da empresa. Fareja quando ainda há gente
trabalhando depois da hora, se um escritório está vazio e há quanto
tempo
Sabe aparecer à frente da direção nas horas mais importantes e
críticas, transmitindo sempre a imagem de um workaholic. Quando a
empresa fecha suas portas e a maioria absoluta dos empregados já está em
casa, pode finalmente acessar computadores e escaninhos secretos.
Muitas vezes, nas suas andanças noturnas ou mesmo feriados, abre gavetas
que contêm guloseimas estocadas por alguma gorda e gulosa secretária.
Nesses casos, o seu instinto fala mais alto. Não tem remorso e come tudo
o que encontra. (Agora você já sabe por que tanta comida some das
gavetas da sua empresa fora do expediente.) Mas não julgue
precipitadamente que ele é um cleptomaníaco ou um ladrãozinho comum.
Roubar alimentos não é o seu core business, mas de certa forma um
inocente hobby de quem exerce uma atividade tão solitária. Afinal, ele
também precisa se divertir um pouco...
O ratocorp tem objetivos de longo prazo. Entende que, pela própria
dinâmica da operação de uma empresa, ninguém sozinho consegue saber tudo
ao mesmo tempo. Por isso, precisa se municiar ao máximo de informações
privilegiadas para, quando chegar a hora, exercitar plenamente o poder,
mas sempre de forma indireta.
IMUNE A DEMISSÕES
Cedo ou tarde, a oportunidade de ascensão
profissional acaba chegando. O diretor da área decide promovê-lo a
gerente, após observar pessoalmente a sua indiscutível lealdade e
dedicação à organização - principalmente quando comparadas às dos outros
colegas. O desempenho do ratocorp, segundo a percepção do diretor, se
traduz em uma inesgotável atividade ("ele está sempre trabalhando"), o
profundo conhecimento da empresa ("ele sabe na ponta da língua todos os
procedimentos") e o impressionante domínio dos negócios ("ele parece
adivinhar as nossas estratégias e planos confidenciais"). A partir desse fato, surge o grande divisor de águas da carreira do
ratocorp.
Finalmente, ele é formalmente reconhecido como um de seus
representantes oficiais. Mas não espere dele um comportamento
profissional digno de seu novo cargo. Seja qual for a missão que receber
em sua carreira, sempre vai preferir o papel de conselheiro. Para ele, a
melhor camuflagem são atividades de staff, a sua verdadeira vocação,
atividades essas de quase impossível avaliação. Se algo que ele
recomendou der certo, ótimo. Se der errado? Bem, a culpa não foi dele,
primeiro porque não era o responsável direto pela execução; depois,
porque sua idéia foi muito mal executada.
O ratocorp é imune a demissões, pois é consenso da empresa que a sua
presença é imprescindível. Quando se aposenta, dezenas de anos mais
tarde, o faz debaixo de intensos choros e soluços de toda a organização.
Chega aos mais importantes cargos de assessoria, sempre em funções bem
remuneradas de suporte, mas nunca executivas. Isso porque ele não é bobo
de aceitar alguma posição que o exponha à luz do dia. Sempre terá uma
resposta adequada, baseada em sua modéstia ou filosofia de vida, para
declinar convites inconvenientes e perigosos desse tipo. Afinal, ele
detesta desafios e riscos.
Em sua convivência com o Olimpo empresarial, aprende que o exercício do
poder é profundamente solitário. Os executivos nunca têm com quem falar
de maneira franca, isto é, de igual para igual. A subserviência e a
bajulação florescem nesse ambiente - e os poderosos são os primeiros a
saber disso. Não é raro dirigentes tomarem importantes decisões baseadas
apenas na opinião de secretárias, copeiras ou motoristas - que são os
seus mais leais e próximos servidores do dia-a-dia. Por isso, os
ratocorps representam a saída honrosa e aceita culturalmente pelo
sistema para minimizar a angústia do isolamento da corte empresarial.
Enfim, um mal necessário. Se não existissem, precisariam ser inventados.
PACTO DE SILÊNCIO
Num processo simbiótico, os parasitas privam
da intimidade dos organismos que os abrigam. Há um momento em que
explorado e explorador se confundem e passam a depender um do outro. É a
famosa síndrome de Tom e Jerry. Você conhece o desenho animado. O
legítimo morador da casa passa o tempo inteiro atrás de um ratinho
simpático que explora sem qualquer direito a geladeira e a paciência do
gato. Mas se o rato Jerry não existisse, não haveria história, e Tom não
seria tão famoso assim...
Pense agora no nosso ratocorp. Coincidência?
Dificilmente.
E, já que o assunto é mesmo rato, pergunte a qualquer sanitarista de
plantão por que todas as cidades do mundo estão infestadas de roedores e
ninguém resolve o problema de vez. A resposta, provavelmente, é que há
um momento em que colocar veneno demais pode matar, por acidente, outros
animais, plantas e até seres humanos. Por isso, os habitantes acabam se
acostumando a fazer de conta que não vêem os ratos, desde que estes se
limitem a atuar em áreas externas e não invadam as suas residências.
Nas empresas, há um acordo não- verbal muito parecido. Todos os
funcionários sabem quem são e onde estão os sanguessugas do sistema. Mas
jamais os denunciam. Primeiro, porque não estão ali para delatar.
Segundo, porque a empresa não é mesmo deles. Mas esse pacto sinistro de
silêncio tem o seu custo. Os empregados talvez não se dêem conta, mas
todo fim de mês uma parcela invisível de seus salários é abatida para
sustentar colegas ratocorps.
.jpg)
![]() |
Clique na imagem |
*Fabio Steinberg foi pioneiro, no Brasil, na crítica à vida
corporativa. O texto abaixo, publicado originalmente na revista Exame, é
um pequeno clássico da rotina que todos enfrentamos nas empresas em que
trabalhamos. Nele, Fabio criou um personagem simplesmente inesquecível:
o Ratocorp. Clap, clap, clap. De pé.
Formado em Administração e Jornalismo, é consultor em comunicação
empresarial. Em seus 35 anos de carreira profissional, destacam-se 18
anos na IBM Brasil, dez dos quais dedicados à área de relações com a
imprensa.
É autor dos livro O Maestro ( Editora C4 / It Books) e Ficções Reais (editora Campus) e colaborou ainda em A Organização Por Trás do Espelho – Reflexos e Reflexões, de Fela Moscovici (José Olympio Editora). Escreve com freqüência artigos publicados na imprensa. Foi responsável por uma coluna durante um ano na revista Exame, onde faz eventualmente resenhas de livros de negócios. Além de consultor, Fábio dedica parte do tempo a conferências sobre comunicação e gerenciamento de crises.
