"Síndrome da Alma Penada".
(Autor: Herbert Drummond)
Já leu ou ouviu uma declaração ou entrevista de alguém, que tenha sido obrigado a deixar seu emprego recentemente, falando (criticando ou sugerindo coisas a fazer?) a respeito de sua ex-vida, como se ainda estivesse lá?
Chamo a isso de "Síndrome da Alma Penada". Criei essa expressão para situações em que, ao ter que deixar uma determinada função de comando, um indivíduo não consegue se afastar das lembranças, do ambiente, das sensações e das pessoas que faziam parte do ex-emprego. Até sonha com ele. Devo dizer que pesquisei no Google e encontrei algo próximo do tema; clique aqui para conhecer.
A Síndrome da Alma Penada faz referência à ideia/imagem que existe em nosso inconsciente a respeito de quem morre e por não aceitar essa nova realidade, sua alma continua zanzando entre os “vivos” (no nosso caso, os ex-companheiros), assombrando-os, querendo participar das antigas atividades e pensando que ainda está vivo, mas perturbado, entre estes dois mundos sem pertencer a nenhum deles. Já viu algo assim na sua vivência profissional? Esses comportamentos são mais comuns do que se imagina.
Eu mesmo já fui vítima dela, da síndrome, e por isto mesmo pude conhecê-la de perto. Há muitos anos, pela primeira vez na carreira, fui exonerado (demitido) de uma alta-função e custei a aceitar a realidade. Não demorei e comecei a procurar os ex-assessores, sugerir e insistir em encontros de happy-hours e almoços, comentar as “novidades que me contavam e até sugerir como deveriam tratar determinados problemas... Pior, voltei algumas vezes ao local do ex-emprego para “visitar” os colegas, saber das últimas notícias e dar palpites.
Um dia percebi que estava era atrapalhando e perturbando as pessoas nos seus ambientes de trabalho e elas – mesmo as mais próximas - só me recebiam por educação e consideração. Tomei consciência do quanto era ridículo o que estava fazendo e nunca mais – a partir daí – voltei a um local de ex-emprego ou procurei ex-colegas para saber ou comentar sobre as coisas do meu passado naquela função.
Aproveito, como ilustração ao texto, o episódio de recente entrevista de um ex-ministro, personalidade política com muitos poderes nos últimos anos, que perdeu, de um momento para outro, todo o status que havia conquistado. A entrevista foi uma clara demonstração de que estava sob efeito da Síndrome da Alma Penada. Para ser justo, lembro também, de várias outras personalidades ilustres, do Brasil e de outros países também, que têm sido acometidos, de forma inadvertida da "síndrome", com regular frequência.
No mundo das empresas – organizações públicas ou privadas - é comum ver ex-presidentes, diretores e gerentes, se movimentarem nas salas e corredores dos ambientes em que foram dominantes, como se fossem "almas penadas", assombrando antigos subordinados ou companheiros; sem aceitar a perda do status. Não fazem ideia da triste figura que fazem.
Por experiência pessoal, digo que se não conseguirem reverter a condição de “assombrações”, muitos ficam, para o resto das suas vidas, presos nesse limbo, sem reencontrar os novos caminhos. Conheci alguns nesse estado também.
As perdas são muitas: poder, status, "amigos", auto-estima, vantagens financeiras entre outros danos. O tempo fora da “realeza” é como sofrer uma crise de abstinência. Um rebaixamento de função ou mesmo um novo emprego em condições inferiores ao anterior também pode ser listada como exemplos de existência de eventuais almas penadas.
Na vida real basta citar os exemplos dos casamentos desfeitos onde um dos parceiros não aceita a situação e continua querendo interferir na vida do outro... O fato é que, para muitos, é doloroso aceitar de bom grado a perda de status e mergulhar nas sombras do ostracismo e às vezes, da humilhação.
Quanto antes a vítima da síndrome tiver consciência de que "está morto e é um "espectro", mais cedo deixará de penar e consternar os habitantes do seu anterior círculo de relações.
Resumindo, deve deixar o passado no seu lugar e construir, o mais rapidamente, a nova "encarnação", a nova vida. O melhor remédio para isso é a resiliência. Também conheço muitos que conseguiram "ressuscitar" e construir novas carreiras. Seguiram em frente.
A paz de espírito que se ganha é
fartamente recompensadora; nessas condições, digo que só terão paz e sossego
quando aceitarem, plenamente, as circunstâncias da nova realidade de que são
“almas errantes” e passarem a cuidar, cada qual, das suas novas... "encarnações".
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Em Tempo - Esse post, foi publicado há tempos, aqui no blog . Teve uma grande aceitação à época e estava "escondido" no baú de antiguidades da Oficina de Gerência. Reencontrei-o e dei uma completa repaginada. Outro texto, sem perder o foco do tema. Espero que tenha sido do agrado dos novos leitores .