13 DE SETEMBRO DE 2025 ||| SÁBADO ||| DIA DA CACHAÇA |||

Bem vindo

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O Dia Nacional da Cachaça ou simplesmente Dia da Cachaça é celebrado em 13 de setembro. Esta é uma bebida com uma carga simbólica muito grande para a cultura e identidade brasileira. Trata-se de uma das bebidas destiladas de maior consumo a nível mundial. A criação do Dia Nacional da Cachaça foi uma iniciativa do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), instituída em junho de 2009. Ainda existe um projeto de lei do deputado Valdir Colatto e que foi aprovado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, em outubro de 2010, com o objetivo de oficializar a data. Pinga História da Data: O dia 13 de setembro foi escolhido em homenagem a data em que a cachaça passou a ser oficialmente liberada para a fabricação e venda no Brasil, em 13 de setembro de 1661. Esta legalização, no entanto, só foi possível após uma revolta popular contra as imposições da Coroa portuguesa, conhecida como "Revolta da Cachaça", ocorrida no Rio de Janeiro. Até então, a Coroa portuguesa impedia a produção da cachaça no país, pois o seu objetivo era substituir esta bebida pela bagaceira, uma aguardente típica de Portugal.


François, Duque de La Rochefoucauld (Paris, 15 de setembro de 1613 – Paris, 17 de março de 1680) foi um moralista francês, François 6.º, príncipe de Marcillac e, mais tarde, duque de La Rochefoucauld, nasceu em Paris a 15 de setembro de 1613 e morreu na mesma cidade na noite de 16 para 17 de março de 1680. São de Rochefoucauld as famosas frases: "O orgulho é igual em todos os homens (ricos ou pobres), só diferem os meios e as maneiras de mostrá-los"; e "A hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude". (https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_de_La_Rochefoucauld)

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domingo, 9 de março de 2025

Morte e Vida Severina - em vídeo e texto.

 

João Cabral de Melo Neto


CHICO BUARQUE " MORTE E VIDA SEVERINA "

Morte e Vida Severina é um livro do escritor brasileiro João Cabral de Mello Neto, publicado em 1966. O livro apresenta um poema dramático, escrito entre 1954 e 1955 e relata a dura trajetória de um migrante nordestino em busca de uma vida mais fácil e favorável no litoral.
Em 1965, a pedido do escritor Roberto Freire, diretor do Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA), o músico Chico Buarque musicou o poema para a montagem da peça. Desde então sua presença no teatro brasileiro tem sido constante.

"Morte e Vida Severina," de João Cabral de Melo Neto, é uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira, e há muito o que comentar sobre ela. Trata-se de um poema dramático que narra a jornada do retirante Severino em busca de uma vida digna no litoral, fugindo da seca e da miséria do sertão nordestino. A obra é profundamente crítica, ao mesmo tempo, poética e desoladora, revelando as injustiças sociais e as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores rurais.

Um dos aspectos mais marcantes é o uso da linguagem seca e econômica, que reflete tanto a aridez do sertão quanto a luta pela sobrevivência. Apesar do tom sombrio, o poema encontra um vislumbre de esperança na celebração da vida, mesmo em condições adversas, como visto no nascimento de uma criança no final do poema. É um texto que combina poesia e teatro, oferecendo uma narrativa visual e potente.

Os temas principais de "Morte e Vida Severina" giram em torno das questões sociais e existenciais, retratadas de forma poética e crítica; destacam-se:

  • A luta pela sobrevivência: A trajetória de Severino reflete a batalha diária contra a miséria e a aridez do sertão nordestino, além do desejo de encontrar melhores condições de vida.
  • A desigualdade social: O poema expõe de maneira contundente as injustiças enfrentadas pelos trabalhadores rurais e a disparidade entre ricos e pobres.
  • A morte e a vida como paradoxos: A obra trata da proximidade constante da morte no cotidiano dos retirantes, mas também celebra a resiliência da vida, como no nascimento de uma criança.
  • A identidade nordestina: João Cabral de Melo Neto explora a cultura, os costumes e as dificuldades do povo nordestino, dando voz a uma realidade muitas vezes marginalizada.
  • A religiosidade e a esperança: Apesar da dureza das circunstâncias, há momentos de espiritualidade e fé que apontam para a possibilidade de renovação e resistência.
Resolvi trazer este poema ao leitor do blog por três motivos:
  • Por retratar de forma direta e seca, em forma de poesia, uma realidade brasileira que persiste ano após ano, no nordeste do Brasil;
  • Sendo natural e vivido profissionalmente por muitos anos nos sertões do Vale do São Francisco, sinto-me na obrigação de buscar, sempre que oportuno for, chamar a atenção das diferenças sociais e humanitárias entre o Norte-Nordeste e o restante do Brasil.
  • Também me motiva a resiliência do povo nordestino que, mesmo após tantos anos de esquecimento social e preconceitos diversos, mantém sua esperança, sua cultura e sua poesia.

Após o vídeo, coloquei o link que levará o leitor ao texto completo do poema; para quem queira guardá-lo ou conhecê-lo de forma mais intimista.

Assistam e curtam o vídeo para conhecer esta obra-prima de João Cabral de Melo Neto





Este link - clique aqui - o levará a uma publicação da Universidade do Amazonas com o texto completo do poema "Morte e Vida Severina".


sábado, 3 de fevereiro de 2024

"O dia da criação" - (Porque hoje é sábado) - Vinicius de Morais

 

Porque hoje é sábado, me deu vontade de ouvir, mais uma vez, o famoso poema de Vinícius de Moraes, "O Dia da Criação". 

Engraçado, mas poucos - das gerações mais jovens - sabem que este poema foi "apelidado" de "Porque hoje é sábado". E pior, em algum momento alguém disse que era do Carlos Drummond de Andrade; não é. É do Vinicius. 

Sem mais delongas, porque poemas e poetas não se explicam, vou compartilhar com vocês o vídeo do Vinicius (quanta saudade!) declamando, com seu bom humor de sempre, "O Dia da Criação"; ou, se preferirem, o "Porque hoje é sábado". E hoje, 3 de fevereiro de 2024, é sábado mesmo! 

Coloquei abaixo do vídeo o texto do poema para quem queira acompanhá-lo na leitura.




O dia da criação

Rio de Janeiro , 1946

Macho e fêmea os criou.
Bíblia: Gênese, 1, 27

I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.

Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

"Memória Eterna", de Adélia Prado por Nelson de Freitas



De vez em quando gosto de publicar um vídeo ou mesmo um texto, trazendo para os leitores e visitantes da Oficina de Gerência uma poesia de autores consagrados e que digam respeito à sensibilidade que devemos cultivar em nossas vidas (clique aqui para conferir).

Desta feita trago Adélia Prado, uma das poetisas mais fulgurantes da cultura brasileira e que dispensa apresentação. O poema chama-se "Memória Eterna" e é magistralmente interpretado pelo ator Nelson de Freitas, que também dispensa apresentação.

Uma pequena parte do poema, para aguçar a curiosidade de quem chegou até aqui: Espero que gostem 
  • "É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos."






quarta-feira, 18 de outubro de 2023

O que a memória ama, fica eterno - Adélia Prado por Nelson de Freitas

Nelson de Freitas

Conheci, esta semana, o canal YouTube do ator Nelson de Freitas e só com um breve passeio, imediatamente me inscrevi; e, claro, vou procurar conhecer todos os seus vídeos. 

Na constelação de atores brasileiros de todos os níveis, o Nelson de Freitas - que não é daquele time de "estrelas globais" -  se destaca por suas interpretações diferenciadas, sua cultura e inteligência. São poucos, poucos mesmos, os atores que me inspiram a dizer que lhes sou admirador; o Nelson é um desses poucos. 

Não sabia que ele tinha um canal YouTube. "Descobri-o" há poucos dias e ao visitá-lo me surpreendi com o conteúdo maravilhoso, moderno, de primeira classe, diferente, inteligente e de atuações extraordinárias pela arte de Nelson de Freitas.  Uma joia! Recomendo a todos que o visitem e preparem-se, porque vão se inscrever na hora e colocá-lo entre seus favoritos. Depois que o visitei pela primeira vez, fui lá (quase) todos os dias para ver e ouvir os textos magistralmente interpretados.

A propósito, faço um comunicado aos leitores que pretendo passar a publicar no blog, regularmente, os vídeos do canal "Nelson de Freitas Oficial".

Para ilustrar o post coloquei abaixo um vídeo maravilhoso, onde ele declama o lindo poema de Adélia Prado, intitulado "O que a memória ama, fica eterno". Para fechar o post, transcrevi o poema, para quem se interessarem copiá-lo.

Hum! Paro por aqui sob risco de me estender demais - acho até já o fiz - para falar sobre Nelson de Freitas. Assistam o vídeo, visitem o canal (https://www.youtube.com/@NelsonFreitasOficial) e depois me escrevam dizendo se tenho ou não razão.





O que a memória ama, fica eterno

Adélia Prado

Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.

É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.

Diante do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.

Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.

A capacidade de se emocionar vem daí: quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, àquela época...

Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos. Encontros de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debilóides, como éramos há 20 ou 30 anos. Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos... mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.

A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos. Prá eles a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite... ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.

Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando. Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.

Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve, daqui seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade

 



RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Os Estatutos do Homem - Thiago de Mello

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Thiago de Melo (30/3/1926-14/1/2022)

Se alguém quiser discutir feio comigo basta falar mal de Thiago de Mello.

Basta dizer que o meu segundo filho se chama Thiago e além da beleza do nome é também uma homenagem a este poeta extraordinário que a raça brasileira produziu a partir das selvas amazônicas.

Não! Não vou falar Thiago de Mello. Desnecessário.

Trago-lhes tão somente uma de suas poesias mais conhecidas e mais emocionantes. Segundo seus críticos, a mais famosa. Falo de "Os Estatutos do Homem". É o retrato de sua vida, grande parte dedicada a defender o direitos humanos, os direitos dos povos da Amazônia e os direitos de todos os oprimidos. 

Para quem não a conhece e acho que são muitos, principalmente os jovens, será uma linda emoção. Para aqueles mais velhos que já transitaram  pelos versos sempre vivos e questionadores do poeta será uma alegria poder ouvir a sua voz poderosa dizer "Fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida..."

Por favor, não vejam o vídeo, se não estiverem a fim de de admirarem uma das mais belas páginas da poesia brasileira. Deixem para outra hora. Será um desperdício não aproveitar cada momento, cada frase, cada entonação que a interpretação do poeta nos conduz nos quase 6 minutos da apresentação.

Após o vídeo coloquei o texto do poema para quem quiser copiar e distribuí-lo aos seus filhos e amigos.


Poeta Thiago de Mello, acompanhado do Duo Gismonti, no Circo Voador, Rio de Janeiro, na abertura do Poesia Voa 2.0 | Festival Poesia Direitos Humanos - 10.dez.2006

Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Criado em Santiago do Chile, abril de 1964

sábado, 4 de setembro de 2021

O que a memória ama, fica eterno - Adélia Prado


A Oficina de Gerência traz para seus leitores, neste post, uma surpresa. Surpresa agradável, tenho certeza. Vocês vão ouvir um belíssimo texto da poetisa  Adélia Prado, na magistral interpretação de Carlos Eduardo Valente. 

Como poema não se comenta digo apenas que trata de um tema muito caro a todos nós. Poema é sentimento e sensibilidade, portanto e sem delongas vamos a ele.

Quem se interessar em conhecer o texto escrito, ele está logo na sequência do vídeo.




O que a memória ama, fica eterno

Adélia Prado

Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.
É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.
Diante do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.
Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.
A capacidade de se emocionar vem daí: quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, àquela época...
Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos. Encontros de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debilóides, como éramos há 20 ou 30 anos. Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos... mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.
A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos. Prá eles a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite... ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.
Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando. Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.
Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve, daqui seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.