Ao ler a Folha de São Paulo
deparei-me com o texto abaixo desse eminente brasileiro. Marcelo Gleiser escreve sobre
os temas mais complexos como astronomia, física e filosofia com a facilidade e
a fluidez de quem conhece muito do assunto e sabe como transmiti-los aos
mortais comuns. O nível dos textos e do pensamento de homens como Marcelo
Gleiser é tão alto que disponibilizá-los para os leitores do blog é quase um
dever.
Nesse
artigo, um dos mais instigantes que já li do físico e astrônomo brasileiro ele
apresenta uma tese interessantíssima e desenvolve raciocínio a partir da
extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos e conclui que - embora possa
haver vida em outros planetas - nós, seres humanos, como somos, só existimos aqui
na Terra.
Portanto, meus caros leitores e visitantes, recomendo a leitura embora
não seja assunto do mundo corporativo é, sim, tópico para ser pensado e
discutido nas melhores rodas de conversas que você possa frequentar...
.....
O que dinossauros nos ensinam
A história das colisões na Terra mostra que, se a história tivesse sido outra, não estaríamos aqui
Às vezes, a morte vem de lugares inesperados. Para um dinossauro que vivia
há 65 milhões de anos, o maior perigo eram outros dinossauros, especialmente o
"T. rex", que só temia outros como ele.
Porém, mesmo que algumas populações de dinossauros estivessem em declínio já
antes da extinção, o que deu cabo deles foi a colisão cataclísmica de um
asteroide de 10 km de diâmetro.
O impacto deixou uma cratera de 150 km na península de Yucatán, no México. É
difícil imaginar que uma única colisão possa causar tamanho dano. Mas uma rocha
que viaja a 30 km por segundo (150 vezes mais veloz do que um jato) deposita
uma energia no seu impacto equivalente a 100 mil vezes a energia da detonação
simultânea de todas as bombas termonucleares que existiam na Guerra Fria. O refluxo
de matéria viajou até a metade da distância entre a Terra e a Lua.
Nuvens de poeira bloquearam o sol durante meses e a temperatura caiu
vertiginosamente. Após a poeira se assentar, um efeito estufa acelerado fez com
que a temperatura subisse rapidamente; mais de 50% das espécies desapareceram.
Esse não foi o único impacto na Terra ou o que mais destruiu a vida.
Felizmente, esse tipo de colisão é raro, ocorrendo em média a cada 30 milhões
de anos. Uma das mais recentes ocorreu em 1908 em Tunguska, na Sibéria,
destruindo cerca de 30 km2 de floresta com a energia de 185 bombas de
Hiroshima. Esse tipo de impacto, com frequência média de cem anos, pode causar
sérios danos, mas não extinções globais. (No caso de Tunguska, o fragmento
explodiu antes do impacto.)
Será que isso pode acontecer de novo? A Nasa tem um programa dedicado à caça de asteroides e cometas, com eficiência de cerca de 75%.
Asteroides ou cometas considerados ameaças globais podem ser detectados com
dois anos de antecedência. Uma missão poderia ser enviada com o intuito de
desviar a órbita do asteroide, evitando o impacto, como explico no livro
"O Fim da Terra e do Céu".
A história das colisões que ocorreram na Terra nos ensina algo crucial sobre
a vida: se a história tivesse sido outra, a vida aqui teria evoluído de forma
diferente e não estaríamos aqui. Nossa existência é produto de eventos cósmicos
de dimensão apocalíptica, acidentes que causaram mudanças drásticas nas
condições terrestres, afetando as espécies e destruindo muitas delas.
Quando o balanço ecológico muda, mudam o equilíbrio dinâmico entre presa e
predador e a distribuição de alimentos. A pressão ambiental leva a novas
condições que vão beneficiar certas espécies em detrimento de outras.
Como cada planeta tem a sua história e nenhuma é idêntica, mesmo supondo que
outras "quase-Terras" existam pela galáxia afora e que a vida exista
nesses planetas, ela terá características diferentes. Consequentemente, humanos
só existem aqui, resultado dos detalhes da história única de nosso planeta.
A história da vida num planeta reflete a história da vida do planeta. Como
histórias planetárias não são duplicáveis num universo finito, somos únicos no
Universo. Uma boa lição que os dinossauros nos ensinam, especialmente naqueles
dias em que você não se sente lá muito importante.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College,
em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook
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