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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Gol 1.000 do Pelé (em 19 de novembro de 1969). Minha reverência ao Rei do Futebol.


Registro a data, 19 de novembro, noite no Maracanã - histórica para o esporte brasileiro - e rememoro as lembranças. Nesta época eu era um jovem radialista em Recife (Radio Clube de Pernambuco, "Escrete de Ouro de Ivan Lima'') e estava trabalhando naquela noite de jornada esportiva(era como chamávamos as transmissões esportivas) em Recife, na retaguarda da equipe, Ivan Lima e José Santana. Não havia televisão a cores, era na base do P&B. 

O Santos jogava contra o meu Vasco. Inclusive os vascaínos, o resto do mundo torcia para sair o milésimo gol. E veio o pênalti e veio o gol. Foi uma apoteose. O jogo parou por muito tempo, invasão de campo, alegria e festa para todos os recantos do Maracanã, do Brasil e do mundo do futebol. Os locutores esportivos esganavam-se para levar a emoção do momento aos seus fiéis ouvintes. Um enorme e agradável pandemônio. Ah! Bateu a nostalgia...

Só faltava aquele gol para coroar a carreira fantástica de Pelé. Nem lembro se o jogo recomeçou. Já não tinha mais importância. O futebol nunca mais seria o mesmo a partir dali.

Vejam abaixo a página da Gazeta Esportiva que marcou a data. É um primor de reportagem.

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19/11/1969 . . . . . . . . . . PELÉ FEZ O MILÉSIMO GOL DA CARREIRA

“Dedico este gol às criancinhas do Brasil”. Há 33 anos.

Na noite de 19 de novembro de 1969, uma quarta-feira, Santos e Vasco se enfrentavam pela Taça de Prata no Maracanã. O jogo estava empatado: Benetti abriu o placar para o time cruzmaltino aos 17 minutos de jogo, Renê, contra, igualou o marcador aos dez do segundo tempo. Aos 34 minutos da etapa final, Pelé caiu na área do Vasco após um choque com o zagueiro Fernando. O pernambucano Manoel Amaro de Lima não teve dúvidas: marcou pênalti. O que se viu depois foi um dos momentos mais comentados na história do nosso futebol, talvez mais lembrado que o Dia da Bandeira: o milésimo gol de Pelé, há exatos 33 anos.

O maior estádio do mundo estava lotado, na expectativa pelo tão esperado gol mil. De fato, o Santos soube explorar muito bem a proximidade deste evento: o clube fazia excursões pelo norte e nordeste do país, sempre com o estádio lotado. Pelé só parou quando fez o 999º gol, à espera de um cenário à altura. E ele surgiu, aliás, melhor cenário impossível: além do palco da festa, o goleiro do Vasco da Gama era Andrada, argentino de Rosário. Parecia mesmo programado, afinal, entre os mais de 100 mil torcedores (cerca de 65 mil pagantes), imprensa, convidados e autoridades oficiais estavam presentes no Maracanã.

No instante do pênalti, a torcida gritava “Pelé, Pelé...”. E lá foi Pelé cobrar o pênalti. Todos os jogadores do Santos ficaram na linha do meio campo – isso sim já estava combinado: quando Pelé fizesse o milésimo gol, o jogador correria até o meio do campo para abraçá-los. “O jogo parado, o estádio inteiro calado. Eu, a bola e o Andrada. Naquela hora tive um terrível medo de falhar. Fiquei nervoso. Sabia que todos esperavam o gol. Pouca gente viu, mas fiz o sinal da cruz antes de cobrar o pênalti”, diz o próprio Rei, em um de seus depoimentos sobre o dia histórico.

Pelé partiu em direção à bola, deu a tradicional paradinha e chutou forte, no canto esquerdo, exatamente às 23h23. O goleiro Andrada caiu muito bem, até chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol. Em entrevista ao jornal A Gazeta Esportiva, o goleiro disse que era sua obrigação defender aquele pênalti. “Naquele dia eu enfrentei o mundo. Em campo, não dava para escutar nem a respiração dos torcedores. Até a torcida do Vasco torceu contra mim”.



Bola na rede, fato consumado. Enquanto o primeiro jogador profissional a marcar mil gols na história do futebol buscava a bola e a beijava, no intuito de correr em direção aos companheiros, dezenas de jornalistas invadiram o campo, cercando-o de câmeras e microfones. O primeiro depoimento, emocionado, foi dado ao repórter Geraldo Blota da Rádio Gazeta: “dedico este gol às criancinhas do Brasil”. O goleiro santista Agnaldo, que estava no meio do campo, correu em direção à Pelé, engatinhou entre tantas pernas e levantou o Rei em seus ombros. Uma festa inesquecível.

Há controvérsias – A data entrou definitivamente para a história, mas até hoje discute-se a respeito da verdadeira data do milésimo gol de Pelé. De acordo com as contas do jornalista Thomaz Mazzoni, historiador da vida do Rei, o gol teria acontecido cinco dias antes, na vitória do Santos sobre o Santa Cruz por 4 a 0 – Pelé marcou dois e o terceiro teria sido o milésimo. A manchete de A Gazeta Esportiva do dia 13 foi “Recife aplaudiu o 1000º gol de Pelé”. Mazzoni havia computado um gol de Pelé sobre o Paraguai, pela Seleção Militar, no Sul-americano de 1959. Uma semana mais tarde, embora continuasse sustentando a versão de Mazzoni, A Gazeta Esportiva anunciou novamente o milésimo gol.

Outro jornalista e pesquisador que levantou a suspeita foi De Vaney, que na época trabalhava no jornal A Tribuna, de Santos. Para ele, Pelé estava se deixando levar por interesses comerciais, já que entre o gol 998, no Nordeste, e o milésimo, houve uma verdadeira novela “O milésimo gol foi preparado para ser feito no Maracanã”, dizia. A polêmica voltou em 1995, quando a Folha de S. Paulo também refez a contagem e concluiu que o milésimo gol aconteceu em 14 de novembro daquele ano, num amistoso contra o Botafogo da Paraíba – jogo em que a imprensa e a diretoria do Santos haviam prometido que não iria acontecer.

Contestações à parte, a consagração do Maracanã, responsável por uma repercussão em jornais de todo o mundo - tão grande quanto a ida do homem à Lua naquele mesmo ano, imortalizou o feito de Pelé.

Ficha técnica

Santos 2 x 1 Vasco
Data: 19 de novembro de 1969
Local: Estádio do Maracanã
Árbitro: Manoel Amaro de Lima
Gols: Santos - Pelé (pênalti) e Renê (contra); Vasco - Benetti
Santos: Aguinaldo; Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Djalma Dias (Joel Camargo) e Rildo; Clodoaldo, Lima, Manoel Maria e Edu; Pelé (Jair Bala) e Abel.
Vasco: Andrada; Fidélis, Moacir, Fernando e Eberval; Bougleaux, Renê, Acelino (Raimundinho) e Adílson; Benetti e Danilo Menezes (Silvinho).


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