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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade

 



RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

domingo, 4 de dezembro de 2022

Com a Copa do Mundo não se brinca... Tite errou.



Adoro futebol! Acompanho o esporte desde menino em Recife, na Copa do Mundo de 1958.


O Drummond, pai, era também, radioamador de primeira linha com rádios potentes e especiais e com ele descobri o futebol; acompanhei a Copa de 58 pelas ondas curtas da Rádio Nacional do Rio, com Jorge Cury e Fiori Gigliotti/Pedro Luiz pelas Rádios Panamericana e de São Paulo.


Faço essa introdução para me situar nesse comentário. Sou o que poderia se denominar um "torcedor profissional". Cheguei, inclusive, quando jovem a trabalhar como repórter esportivo na Rádio Clube de Pernambuco na minha fase de estudante (1962 a 1971).


Dito isso, e modéstia de lado, acho que tenho essa "autoridade" para fazer o comentário que leva o título do post: "Com a Copa do Mundo não se brinca..." 


O técnico (gerente) Tite, da seleção brasileira, brincou com coisa séria ao escalar um time 100% reserva para disputar a Copa do Mundo com um time "reserva". Pagou caro. Cometeu um erro que pode lhe custar - e ao futebol brasileiro - muito mais do que uma derrota (imprevista e esdrúxula) e para Camarões.




Poupar jogadores na Copa do Mundo é um "impropério" para não dizer um absurdo! Não foi só a seleção do Brasil. França, Portugal e Espanha também o fizeram, mas não colocaram todos os reservas como titulares. Mesmo assim foi um erro estratégico. Todas perderam.


Minha opinião é que, sendo um campeonato "de tiro curto" (gíria esportiva) na hora que o time principal deixa de ter continuidade na campanha, perde a concentração e o foco. E se o time é o considerado substituto, a estratégia que foi errada pode se tornar desastrosa, psicologicamente.


Vamos trazer o assunto para o mundo corporativo que é o negócio do blog. Imaginem um projeto importante para uma empresa que precisa vencer uma concorrência. Todo mundo focado, trabalhando em tempo integral, inclusive feriados, sábados e domingo. Na reta final, quando tudo está a indicar que a concorrência vai ser vitoriosa, o gerente dá uma folga surpresa, de fim de semana prolongado, ao time principal do projeto.  Você faria isso?


Quais, nesse case, seriam as consequências previsíveis? Poderia apontar aqui uma lista de muitos itens, mas o principal deles seria a quebra de ritmo de trabalho, de foco para se alcançar o objetivo e outras mais; um gerente experiente jamais faria isso.


Com o time da seleção brasileira pode, veja bem, pode acontecer isso. Tanto é assim que o Tite já confessou que se arrepende da decisão que tomou.


O processo de um grupo estar 100% focado para alcançar o objetivo maior de suas carreiras é um mix de vários fatores: muito trabalho, determinação, sacrifícios pessoais, lideranças aceitas, formais e informais - no plural mesmo - e principalmente de muita saúde mental e psicológica. Não pode haver pausa nesse processo. Ele é um continuum, enquanto estiver em operação e não se chegar ao resultado esperado. O que o Tite fez, com a decisão, arrogante, dele, foi quebrar esse processo antes do tempo.


E dou um exemplo. Quem gosta de futebol deve lembrar a seleção brasileira na copa de 1982. Considerada uma das melhores seleções já formadas, com o Telê Santana como técnico, perdeu a copa após a quebra do seu continuum, ao vencer a seleção argentina com Maradona e tudo, nas oitavas de final. Como assim?


Seleção brasileira na Copa da Espanha 1982
 

Explico e essa é uma teoria minha: a Argentina era a campeã do mundo (1978) em uma copa na qual o Brasil se autoconsiderou o "campeão moral" dado que a Argentina (ambas as seleções no mesmo grupo) foi classificada por uma goleada suspeita no Peru (6 a 0) tirando o Brasil das quartas de final por saldo de gols. Um escândalo!


Em 1982, a seleção brasileira preparou-se, psicologicamente, para vencer a Argentina. Era a grande motivação dos brasileiros. Vencer a Argentina, campeã do mundo, com Maradona e tudo. E caíram as duas, juntas, no mesmo grupo da 2ª fase da copa. E o Brasil venceu a Argentina (3 x 1) com sambadinha de Junior e tudo. Foi um festa nacional. Comemorou-se como final da Copa. O Brasil tinha um time invencível dizia-se... e era mesmo!


Só que o continuum daquela copa acabou ali. A seleção atingiu o objetivo maior, venceu a campeã do mundo. No jogo seguinte veio a Itália que apesar de desacreditada após três empates na 1ª fase da Copa, havia vencido a mesma Argentina (2x1) dias antes.


Quem assistiu aquele famoso Itália 3 x Brasil 2, no Sarriá, há de lembrar que o time entrou diferente do jogo com a Argentina. Não foi salto alto (lembro muito bem); foi algo diferente.


O time foi surpreendido com um gol do Paolo Rossi no início da partida (5') e não se recuperou do susto durante todo o restante do jogo. Empatou aos 12', mas a Itália respondeu aos 25'. O Brasil jogava pelo empate; e empatou aos 68', mas ao invés de "segurar o jogo", partiu desesperado para o ataque e quis vencer para justificar a altíssima qualidade da seleção. Falta de inteligência emocional coletiva. O resultado todos sabem. Foi "quebra do continuum".


Tudo isso, conto para justificar minha preocupação com a decisão do Tite de disputar com o time reserva, um jogo da Copa do Mundo. Poupar time na Copa??? Cá prá nós, é muita arrogância! Pode ter quebrado grande parte da construção do foco na preparação da seleção.


Só no jogo de amanhã contra a Coréia do Sul poderemos conhecer os efeitos dessa desastrada decisão. Algumas perdas já aconteceram: quebra, desnecessária da autoconfiança dos jogadores reservas, principalmente daqueles que lutavam por espaços na equipe principal; perda, evitável, de uma longa e convincente invencibilidade do grupo; exposição das fraquezas de determinados jogadores, para alegria dos próximos adversários e principalmente a colocação de uma mancha desnecessária, na história da campanha da seleção nessa copa.


Tudo isso ficará esquecido se o Brasil amanhã (2ª feira) conseguir passar pela Coréia justificando seu favoritismo, assim como a França fez com a Polônia (3x0) e Portugal poderá fazer com a Sérvia e a Espanha com Marrocos na terça feira (6). Todas essas seleções pouparam titulares nos seus últimos jogos e perderam os jogos.


No caso do Brasil torço, é claro, para a vitória nos sorrir, recuperarmos o nosso continuum e seguir focados rumo ao Hexa.



terça-feira, 15 de novembro de 2022

"Trabalhar com alegria"... o que é isto? Você sabe?

 


Bati o olho no artigo da Veja, abaixo, e me surpreendi(!) ao refletir sobre o tema "Trabalhar com Alegria".  Fiquei me perguntando, por quê a surpresa? 

Considero que, antes de tudo, devemos - mesmo sob risco de "filosofar" - buscar definir o que seria "alegria no trabalho". Não confundir com "Alegria por Trabalhar" ou "Felicidade no Trabalho".  


Para pontuar minha dificuldade, devo dizer que não lembro, de alguma vez na vida haver trabalhado sem, digamos, esse "tipo de alegria". Estranho para mim pensar nessa situação. O que seria isso então? Alegria no trabalho... Um sentimento? Um comportamento? Uma atitude? Um estado de espírito"? O quê? Incrível que, agora, pensando nisso com mais profundidade, vejo que nunca havia sido instado a definir-la. Fui pesquisar...  


Vejam e pensem na frase abaixo, de Máximo Gorki: 




Que tal? Dá para pensar, não é? Trabalho e vida... acho que a chave dessa significação passa por aí, por esses dois fatores. 


Clique nesse link que tem o título de "41 frases de felicidade no trabalho". Se der tempo, recomendo que leiam todas. Vou ajudá-los. Abaixo estão algumas delas:

  • "Não pode haver felicidade na vida, se não houver felicidade no trabalho que se faz." Tomás de Aquino 
  • "O homem só consegue ser formidável, quando age por paixão". Benjamim Disraeli 
  • “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra.” Aristóteles 

Não vou cansá-los aqui tateando no escuro para eleger uma frase ou sentença que abranja algo tão amplo. Para ficar em paz comigo mesmo e em respeito aos leitores me arrisco, no máximo, a dizer que "alegria no trabalho" é muito mais um conjunto de sentimentos e fatores de vida interligados, do que fruto de atitudes ou comportamentos.  


Convido-os a entrar no Google com a pesquisa "Alegria no Trabalho" e buscar entre os 41.000.000 de links disponíveis e ver se encontram algo melhor do que minha humilde contribuição.  


De qualquer sorte, o artigo abaixo, que fui buscar na revista Veja, de autoria do jornalista Valmir Moratelli, discorre sobre e apresenta o depoimento da repórter Lizandra Trindade que pediu demissão da TV Globo por estar fazendo seu trabalho sem alegria. Uau!


Só o fato de pedir demissão de um conglomerado onde muitos querem estar já parece, por si só, algo inusitado; mas pelo que informa o texto, não é tanto assim. 


A Oficina de Gerência fica satisfeita de poder trazer aos leitores do blog um tema tão interessante para o mundo corporativo e sua interligação com o cotidiano da vida. 





VEJA GENTE
Por Valmir Moratelli




Após 19 anos de Globo, repórter pede demissão por ‘trabalhar sem alegria’ 

Lizandra Trindade passou a receber depoimentos de ‘great resignation’; entenda

(Por Valmir Moratelli  - Publicado em 16 ago 2022) 

 

Lizandra Trindade - 


Lizandra Trindade pediu demissão há cerca de dois meses da TV Globo. Ela anunciou a saída na sequência da partida de Fátima Bernandes do Encontro. “Não estava bom… Trabalhar sem a alegria de sempre era desrespeitoso”, declarou Lizandra, foi apresentadora no SporTV, onde participou de grandes coberturas, como os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, e apresentou programas como Planeta SporTV e SporTV News. 


A tendência de demissões voluntárias ganhou nos Estados Unidos o nome de “great resignation” (em tradução livre, seria como “grande renúncia”). Somente em 2021, mais de 47 milhões de pessoas nos EUA deixaram seus postos de trabalho por iniciativa própria. Ao comunicar nas redes sociais a decisão de sua saída, Lizandra passou a receber depoimentos de seguidores que também tomaram atitude de great resignation. “Eu não esperava a repercussão da minha última postagem, sobre a saída da Globo… Senti-me abraçada e percebi o quanto é comum o que vivo. Eu saí. Centenas se identificaram. Milhões pedem demissão por mês nos Estados Unidos. A Beyoncé está cantando a nossa situação. As lideranças estão ouvindo? Ou estão dançando?”, disse. 


Leia a seguir a íntegra do comunicado da jornalista: 


Eu saí da Globo. Porque eu quis. Há, sim, um quê de loucura na minha decisão. Li outro dia, aqui mesmo, no LinkedIn, numa pesquisa da Cia de Talentos, que a Globo está em terceiro lugar no ranking das empresas mais desejadas para se trabalhar. Li isso dias depois de assinar a minha demissão. E ninguém precisa me explicar o resultado da pesquisa. Estive dezenove anos lá dentro, cresci lá dentro. A Globo me formou como profissional. 


Eu trabalhei quase duas décadas na maior empresa de comunicação do país, com os melhores recursos técnicos e os profissionais mais qualificados que o mercado poderia me oferecer. Fiz amigos para a vida toda, entrevistei gente relevante, fui a Copa e Olimpíada, apresentei jornais de rede. Tive sucesso no sonho da menina de 8 anos que queria ser jornalista quando crescesse. E tive dificuldade na hora de sair, porque essa menina segue em mim e não é acostumada a desistir. Acontece que, no final, a minha experiência já não era sonho. Ninguém abre mão de uma relação tão longa quando ela é mais boa que ruim. Minha história na Globo tem um saldo ultra-mega-hiper positivo. Mas os últimos anos, não. Chegar para trabalhar sem a alegria de sempre era desrespeitoso comigo. Precisei de tempo para aceitar a ruptura, entender que renovação não é desistência. Pelo contrário: abrir mão do que não estava bom era não desistir de mim mesma. 


No centro da minha vida profissional havia uma empresa. Hoje, eu estou ali. Com toda a minha capacidade produtiva e um prioritário senso de autocuidado. Venci o medo. E garanto: tem coragem na fórmula da felicidade. A única pessoa no mundo corporativo que tem como prioridade fazer você feliz é você mesmo. Você está preparado para essa missão?” 

  • Clique aqui caso desejar ler o artigo no site original. Se tiver oportunidade leia também os comentários na página dela no Instagram. Repercussão enorme e muito aprendizado.