Outro dia estava eu numa live com
amigos e alguém, mineiro, trouxe para a roda de conversa a triste situação do
Cruzeiro Esporte Clube, a "Raposa Prateada" de Belo Horizonte. Na
verdade ele queria fazer uma gozação (cruel) com outro companheiro -
cruzeirense doente - que estava no grupo.
Gozação pra lá, gozação pra cá,
chegamos à conclusão triste e óbvia: o grandioso clube da "Raposa
Prateada" está morrendo à vista de todos. Me ocorreu, então, especular e
escrever um artigo sobre as razões pelas quais um gigante como o Cruzeiro
Esporte Clube chegou ao fundo do poço (conheça aqui a
coleção completa de títulos do Cruzeiro). Abaixo os títulos internacionais e
nacionais.
Com sua imensa legião de torcedores,
tradições mil e campeão de tudo que haja disputado, a pergunta é: como uma
organização do porte do Cruzeiro (veja aqui o
que está na Wikipédia sobre o grande clube mineiro) chegou a este ponto onde se
encontra?
Primeiro vejamos a atual realidade
do Cruzeiro: vive uma luta desesperada contra o rebaixamento da “série B” para
“série C” do futebol brasileiro, o que no seu caso significa o ponto mais baixo
que um dos maiores clubes esportivos do Brasil e da América do Sul pode chegar.
Será o ápice da humilhação.
Como pode ser isso?
Quem ama o futebol – e não estou
falando só dos torcedores cruzeirenses – não consegue entender e não se
conforma com o drama da camisa azul celeste de Minas Gerais.
Mas tem explicação. E ela se resume
a um conceito que é lugar comum na ciência da administração e da gerência: má
administração continuada e sem fiscalização.
Não vou citar os nomes dos
dirigentes que podem ser responsabilizados pela debacle. Eles são muitos. Um
processo desses não acontece de repente. Má gestão no nível de falência não é
resultado de um erro localizado e nem de uma pessoa só. Ao contrário, é um
encadeamento de decisões erradas, lapsos, desacertos, corrupções e desvios de
objetivos.
O Cruzeiro, se fosse um conglomerado
privado já deveria estar pedindo falência ou no mínimo uma recuperação judicial. Resiste porque é uma agremiação esportiva com legislação diferenciada.
O processo do Cruzeiro não é nenhuma
novidade no ambiente esportivo. No final dos anos 90, a Associação Portuguesa
de Desportos, a tradicional Portuguesa ou “Lusa do Canindé” iniciou sua queda.
Se manteve aos trancos e barrancos alternando as últimas posições dos
campeonatos e torneios que disputou.
A trajetória descendente da Portuguesa foi contínua, caindo da 1ª divisão para a 2ª, depois para a 3ª e finalmente para a 4ª. Tudo isso em três anos. Clique aqui e conheça essa história na matéria “A queda sem fim da Portuguesa”.
(Posições finais na tabela da Série B do campeonato brasileiro após a 14ª rodada) |
O Cruzeiro repete o mesmo drama.
Caiu em 2019 para a “Série B” do futebol brasileiro e manteve-se em crise
profunda não conseguindo voltar à primeira divisão em 2020. Foi o primeiro
clube considerado grande a não voltar a subir no ano seguinte.
Está disputando em 2021, pela
segunda vez a “Série B” (o que era, até então, impensável) e o risco de cair
para a “Série C” é muito provável. Após quase metade do campeonato de 20 clubes
o Cruzeiro está na zona de rebaixamento com menos de 3,5% de aproveitamento (12
pontos em 52 possíveis). Clique aqui e
conheça as chances do Cruzeiro.
No caso do
Cruzeiro isso foi escancarado. Negócios mal feitos, dívidas não pagas, salários
cronicamente atrasados, crises entre grupos de interesse, denúncias de
corrupção em todas as administrações, nepotismos, exploração política da imagem
do clube e mais o que couber nesse mesmo repertório de escândalos e vexames (clique
aqui para
ter uma ideia dos problemas financeiros do Cruzeiro).
Fica triste
constatação que as chances de o clube de sequer permanecer na “Série B” são
escassas e se cair para a terceira divisão, a imensa “nação cruzeirense” terá
de amargar capítulos ainda mais dolorosos para um soerguimento que hoje parece
estar em horizonte muito, muito distante.