Postei dois artigos que não podem deixar de ser lidos pelos leitores e visitantes da Oficina de Gerencia. Eles já estão "bombando" nos links do Google (veja aqui e aqui). Na realidade o sucesso dos textos está diretamente ligado à preocupação de sempre entre uma enorme parcela de profissionais desempregados que sofrem a cada dia na busca incessante e cruel pelo seu emprego.
O diferencial desta materia publicada originalmente pela Folha de São Paulo é mostrar - via pesquisa contratada - que o perfil do desemprego (ou do emprego se olhar por esse prisma) modificou-se fortemente nos ultimos anos.
Na verdade, o que está aparecendo na pesquisa é uma valorização preponderante dos profissionais com baixa escolarização em contraparte àqueles com nível mais alto de escolaridade. As porcentagens são significativas e traduzem uma realidade que estamos registrando em nosso dia-a-dia entre as pessoas que conhecemos ou são conhecidas pelos amigos ou camaradas comuns.
Outro dia mesmo vinha eu retornando de uma viagem a São Paulo e sentei-me ao lado de um jovem - ai pelos 22 anos - que estava voltando de uma licença que sua empresa lhe concedera. Ele ia para Carajás e eu ficaria em Brasília. Simpatico e falante aproveitei para conversar durante a viagem e fazer algo que me agrada muito qual seja explorar um pouco a falta de experiência aliada aos valores do mundo dos jovens da atualidade.
A cultura dele era mediana e sua formação de nível tecnico. Na verdade, pelo que me disse e ele não mentiu nem inventou, era especialista em alguma atividade nos altos fornos que existem em alguma siderurgica em Carajás. Conversa vai, conversa vem, resumo o nosso bate-papo com a "descoberta" que não faltam empregos lá, em Carajás, para o pessoal que tenha formação de nível médio e até para aqueles de formação incompleta no primeiro grau. Ele mesmo tinha sido incumbido por sua empresa de convidar amigos para trabalhar por lá.
Dias atrás postei aqui mesmo no blog uma reportagem da revista Veja sobre o desenvolvimento de Pernambuco (Pernambuco, o Leão do Norte, voltou a rugir... ) onde informava que as empresas que têm contrato por lá estão pagando passagens aéreas para trazer profissionais que vão fazer... Entrevistas!
Está faltando mão de obra não especializada em todos os recantos do Brasil! É a realidade do crescimento do país, mas a oferta de empregos não está atingindo os mais escolarizados. É nessa direção que a reportagem da Folha, que reproduzo abaixo, nos remete e nos informa.
Pode crer que vale a pena a leitura.
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Pedreiro Josué Carvalho dos Santos tem apenas sete anos de estudo e há mais de oito que não sabe o que é desemprego |
Escolarizado é maioria entre desocupados
- Fatia de desempregados com 11 anos ou mais de estudo passa de 39,4% em 2002 para 60% em 2010, mostra levantamento
- Procura por mão de obra menos qualificada e efeito estatístico da maior escolaridade explicam fenômeno
(Os links existentes no texto original foram inseridos pelo autor do blog)
Josué Carvalho dos Santos, pedreiro, sete anos de estudo, não fica sem trabalho há quase uma década. Janaína Alves, auxiliar de escritório, ensino médio completo, procura emprego há meses. As diferentes trajetórias revelam o novo perfil do desemprego no Brasil. Em 2010, 60% dos desempregados tinham 11 anos ou mais de estudo, e 33,6%, até oito anos.
Esse retrato mostra mudança significativa em relação a 2002, quando os menos escolarizados (até oito anos de estudo) eram 53% dos desempregados e aqueles com, no mínimo, ensino médio completo eram 39,4%.
Os números constam em estudo feito pelo
Insper, a pedido da
Folha, a partir de dados de seis regiões metropolitanas. O novo perfil é confirmado por levantamento do Dieese em São Paulo, Salvador e Porto Alegre.
Em São Paulo, a fatia dos desempregados com ensino médio ou faculdade incompleta mais que dobrou entre 1999 e 2010: de 20,8% passou para 44%, segundo o Dieese.
Parte dessa mudança é consequência estatística do aumento da escolaridade.
"Houve queda grande no número absoluto de pessoas com pouca escolaridade e explosão no número dos que terminam o ensino médio", diz Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e autor do estudo.
INCENTIVO À FORMAÇÃO
Clemente Ganz Lucio, diretor do
Dieese, diz que há busca por mais escolaridade: "Nos anos 80 e 90, o mercado caminhava para o desemprego e a precarização. Na última década, com o crescimento, aumentou a demanda por mão de obra e as pessoas se sentem incentivadas a investir em formação."
Mas a demanda dos empregadores não se restringe ao trabalhador com diploma.
A expansão da classe média tem sido acompanhada por procura maior por mão de obra menos qualificada.
"Caiu a oferta de mão de obra menos escolarizada, mas a procura subiu. Com a expansão da classe média, há mais demanda por empregadas domésticas e pedreiros", diz Menezes.
Para os especialistas, há ainda um descompasso de expectativas entre quem consegue se formar e as exigências de quem contrata.
Por um lado, há casos de trabalhadores que se acham qualificados demais para determinadas vagas.
"Não querem "sujar a carteira" aceitando qualquer trabalho", diz Ganz Lucio.
Por outro, há empresas que não encontram o perfil de funcionário que buscam.
"A formação é genérica, e o mercado, principalmente a indústria, busca profissionais mais técnicos", diz Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
No Brasil, 8,7% dos estudantes de nível médio têm formação técnica, segundo Censo Escolar de 2009. Na China, são 42,6%, e, no Chile, 37,2%, segundo a Unesco (dados de 2008).
Analise com atenção a imagem abaixo e tire suas próprias conclusões.
Análise - Mudança exige que trabalhador de nível médio ajuste expectativa
NAÉRCIO MENEZES FILHO*
ESPECIAL PARA A FOLHA
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Esta imagem foi colocada pelo blog |
"Atualmente, os trabalhadores com ensino médio formam quase metade do contingente de desempregados nas regiões metropolitanas do país, enquanto em 2002 eles eram apenas 32%.Em contrapartida, apenas 8% dos desempregados hoje em dia têm pouca ou nenhuma escolaridade, em comparação com 20% no início da década passada. O que pode explicar essa mudança no perfil do desemprego?
Essa mudança decorre de um descompasso entre a oferta e a demanda por trabalhadores com ensino médio e de um lento processo de ajuste das expectativas desses trabalhadores.
Pelo lado da oferta, houve rápido aumento do número de jovens com ensino médio.
Em 1992, só 23% das pessoas com 22 anos de idade completavam esse nível e não estavam na faculdade. Hoje, mais da metade dos jovens está nessa situação.
Esse aumento da oferta de jovens com nível intermediário de qualificação não teve como contrapartida uma geração de vagas com esse perfil no mercado de trabalho.
As vagas que estão ganhando espaço são as que exigem ou pouca ou muita qualificação. Com a automação do processo produtivo, decorrente da queda dos preços dos computadores, as tarefas antes desempenhadas pelos jovens com ensino médio estão sendo codificadas em softwares por máquinas.
As ocupações que estão ganhando espaço são aquelas que não podem ser realizadas por computadores, como as tarefas abstratas, que envolvem resolução de problemas, mas também as tarefas manuais, que exigem presença física e interação.
Exemplos desse último tipo são empregadas domésticas, limpadores, trabalhadores na construção, segurança privada, motoristas e embaladores. Essas ocupações não exigem qualificação, mas não podem ser realizadas por computadores.
Além disso, com o aumento da renda das classes C e D, a demanda por esses serviços manuais tem aumentado.
Mas por que então os trabalhadores desempregados não se ajustam a esse novo perfil do mercado de trabalho, preenchendo as vagas que exigem pouca qualificação? Porque eles não têm informações completas sobre as vagas que estão sendo abertas e sobre a concorrência por essas vagas.
Baseados na experiência passada, os trabalhadores com ensino médio ainda têm a expectativa de obter um emprego "condizente" com o seu nível de qualificação.
Atualmente, para encontrar emprego, o jovem que acabou o ensino médio tem duas opções: ingressar numa faculdade ou ajustar suas expectativas e aceitar um emprego não qualificado."
* NAÉRCIO MENEZES FILHO é doutor em economia pela Universidade de Londres, professor titular e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da FEA-USP.