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domingo, 19 de março de 2023

Home Office, seu chefe não gosta? Entenda o porquê.


A

discussão entre quais sejam as melhores relações de trabalho entre empresas e empregados, o presencial, o híbrido ou o home office, continua acesa, mesmo depois de haver passado o período agudo da pandemia pelo COVID 19.

Acredito que ainda vá durar algum tempo, mas prevejo (que pretensão!) que o home office ou algo semelhante (talvez o "híbrido") vá prevalecer ao longo do tempo. Por que digo isso? 

O mundo caminha celeremente para ser dominado pela crescente alta tecnologia, pelos robôs, pela inteligência artificial, pelo 5G (atual), o futuro 6G (2035), o distante 7G (previsão para até 2045e atualmente  o metaversoPorque o trabalho “atrás das mesas” (aqueles que independam de presença física nas instalações das empresas ) ficaria fora desse contexto?

Deixemos a futurologia e voltemos para cá, 2023, nesse, digamos, confronto atual entre aqueles que preferem e podem trabalhar em casa ou em modalidade híbrida e os que são obrigados a batalhar, em tempo integral, nas instalações físicas das corporações.

O artigo abaixo - lembrar que foi escrito em junho de 2022, com o vírus da COVID 19 ainda ameaçando agressivamente a humanidade - aborda o tema de maneira diferenciada. O título da matéria já dá o tom "O que os chefes perderam na luta contra escritórios vazios: poder".

Um parêntesis, acho que cada um de nós tem sua opinião a respeito desse  "embate", não escondo a minha, que tende, observem que eu disse tende, a privilegiar o trabalho presencial. As minhas razões são muitas, mas confesso que refletem, bastante, a opinião de um "velho executivo" que teima em não se aposentar. 


Entendo perfeitamente que é uma luta inglória (porque fadada à derrota) defender o trabalho diuturno no ambiente das instalações corporativas ao invés de fora delas, seja home officetrabalho remoto ou teletrabalho (para entender supostas diferenças entre estes tipos, clique aqui).

E digo mais, antes de qualquer julgamento dos leitores, que concordo com o título do texto. Os chefes ou CEOs que defendem o lado do presencial, o fazem - essencialmente - porque... sim, perdem poder. As presenças dos empregados, agrupados ali, nas suas "áreas de autoridade", lhes conferem um poder ou um tipo de comando e controle, que perdem, quando estes mesmos subordinados estão "longe de seus domínios", de seu feudo, de sua jurisdição. É fato!

E paro por aqui. O assunto vai longe. Além de instigante, dá muitos "panos para mangas" e não vamos estendê-lo neste post. Por ora, basta para trazer a informação aos leitores do blog.

Recomendo que leiam o artigo. É leve, informativo e bem ilustrativo; e vai ajudá-los a compreender melhor essa questão tão atual na nossa realidade.

Seria bem interessante - para quem desejar - opinar a respeito nos "comentários" (ver link ao final do post). Vamos ao texto.



O que os chefes perderam na luta contra escritórios vazios: poder  


Os planos de retorno ao escritório se revelaram um grande cabo de guerra em que nenhum dos lados cede por medo de parecer covarde


Emma Goldberg, The New York Times

19 de junho de 2022 



O que o chefe de Barrett Kime disse em uma recente videoconferência foi simples. Será que os integrantes da equipe dele na NBCUniversal poderiam ir trabalhar presencialmente nos poucos dias em que se espera que eles estejam no escritório?

Então veio a revolta. Kime, diretor de criação sênior, tirou o microfone do mudo. “Eu estava falando como era insano pedir às pessoas para virem com maior frequência enquanto os casos de covid-19 estão aumentando”, lembrou ele.

Outros funcionários então se manifestaram para compartilhar as razões pelas quais não queriam voltar ao escritório: cuidado de crianças, aumento do preço do combustível, número de casos de covid-19. Para Kime, isso marcou uma nova fase nas conversas entre eles quanto ao retorno ao local de trabalho.

“É meio que uma coisa do tipo Mágico de Oz”, disse Kime. Em outras palavras, sua equipe percebeu que não havia nenhum ser todo-poderoso forçando a presença deles; havia apenas um homem atrás de uma cortina (ou em uma tela do Zoom). “Por mais que resmungássemos sobre voltar a trabalhar presencialmente, todos sabíamos que isso ia acontecer. Mas assim que começamos a voltar, percebemos o quanto isso era estúpido”, acrescentou.

O otimismo a respeito dos planos de retorno ao escritório, em todos os setores e cidades, está diminuindo aos poucos. Quando questionados no início de 2021 qual seria a proporção de seus funcionários que voltariam ao escritório cinco dias por semana no futuro, os executivos disseram que 50%; agora esse percentual caiu para 20%, de acordo com uma pesquisa recente da consultoria Gartner.

A ocupação de escritórios em todo os Estados Unidos estabilizou no mês passado em cerca de 43%, quando os casos de covid-19 aumentaram mais uma vez, segundo os dados da Kastle, empresa de segurança.

A grande maioria dos americanos, sobretudo aqueles no setor de serviços e em empregos com salários baixos, vem trabalhando presencialmente ao longo da pandemia. Mas aqueles que tiveram a possibilidade do trabalho remoto se apegaram à flexibilidade. Em uma pesquisa de janeiro, o Centro de Pesquisa Pew descobriu que 60% dos trabalhadores cujos trabalhos podem ser realizados de casa queriam trabalhar de forma remota a maior parte do tempo ou o tempo todo.

“O que está bastante claro é que há cada vez menos empresas esperando que seus funcionários estejam no escritório cinco dias por semana”, disse Brian Kropp, vice-presidente do departamento de recursos humanos da Gartner. “Até mesmo algumas das maiores empresas que se pronunciaram publicamente dizendo querer seus funcionários no escritório cinco dias por semana estão começando a voltar atrás.”

Há a Apple, que recentemente suspendeu sua exigência de que os funcionários fossem ao escritório pelo menos três dias por semana. Há a McKinsey, que pretende, em algum momento, estabelecer regras mais claras quanto ao comparecimento ao escritório, com o objetivo de garantir que as pessoas entendam a importância da colaboração presencial, mas por enquanto está permitindo que cada um faça acordos com seus clientes e gestores, de acordo com seu diretor de recursos humanos.

O Google adiou o retorno ao escritório planejado para janeiro e, agora, aproximadamente 10% de seus funcionários receberam permissão para trabalhar de modo remoto o tempo todo ou ser realocado. Em um determinado momento, a Intuit considerou algum tipo de plano rígido de retorno ao escritório para seus 11.500 funcionários nos EUA, mas em vez disso permitiu que gestores e equipes definissem suas próprias expectativas de quais dias ir ao local de trabalho.

“Ser taxativo cria todo tipo de burocracia, porque depois você precisa envolver os níveis de gestão e isso se torna muito baseado em regras”, disse Sasan Goodarzi, CEO da Intuit. “Não acreditamos que seja preciso estar no escritório 40 horas por semana e também não acreditamos que seja possível ficar totalmente no virtual.”

Os planos de retorno ao escritório se revelaram um grande cabo de guerra em que nenhum dos lados cede por medo de parecer covarde. Os executivos disseram aos trabalhadores para voltar ao local de trabalho, depois adiaram os planos, pois os casos de covid-19 continuavam a subir.

Os líderes de negócios aceitaram a incerteza, esperando que ela fosse temporária. Até ficar claro que não era. Os trabalhadores tiveram tempo extra em casa, e margem extra para testar a rigidez dos planos de seus chefes. Agora, algumas empresas estão esperando que seus profissionais voltem, mas perderam o poder para forçar isso por causa do fluxo constante de prazos.

“O que decidimos fazer é dizer: ‘O que está funcionando?’”, disse Joan Burke, diretor de recursos humanos da DocuSign, que adiou quatro datas de retorno ao escritório antes de decidir não exigir o comparecimento por enquanto. “Vamos aprender com o que está funcionando e pôr em prática proteções quando acharmos que não estão.”

Alguns executivos esperam que, caso consigam fazer com que seus funcionários passem algum tempo no escritório, eles percebam que gostam mais disso do que lembravam.

Christina Ross, CEO da Cube, empresa de software com 75 funcionários, costumava se considerar uma orgulhosa defensora do trabalho presencial. Antes da pandemia ela contratou um engenheiro que vivia no Texas e insistiu que ele se mudasse para Nova York para trabalhar. Ela não conseguia imaginar construir um relacionamento de longo prazo com um funcionário que ela nunca conheceu pessoalmente.

Agora ela chama sua empresa de “prioritariamente remota”. Primeiro ela considerou, sem levar muito a sério, a ideia de exigir um retorno ao escritório da Cube, mas acabou decidindo tornar essa opção o mais atraente possível. Ela até mudou a localização do lugar em Nova York para facilitar o deslocamento para os funcionários que moram no Brooklyn.

“As pessoas deixaram claro que não queriam voltar”, disse Christina. “Pode acabar sendo decepcionante colocar tanto esforço na construção de um ambiente de escritório e depois não ter pessoas o frequentando.”

Alguns empresários adotaram uma linha mais severa. Elon Musk, por exemplo, disse aos funcionários da SpaceX e da Tesla que eles precisavam passar no mínimo 40 horas no escritório ou seriam demitidos. Muitas outras empresas, como o Google e a Microsoft, optaram por uma estratégia mais branda, preenchendo os locais de trabalho com café gelado, petiscos, sacolas com brindes e cerveja. Mas esses incentivos corporativos têm seus limites, e poucos estão dispostos a experimentar punições.

“É quase como um meme atual do escritório de 2018 – ‘Ei, temos bagels, petiscos e mesas de pingue-pongue'”, disse Christina. “Isso não é uma troca pelo deslocamento.”

Muitas empresas estão aceitando a realidade de que exigir um retorno ao escritório pode colocá-las em desacordo com as demais organizações e significar perder talentos. Em alguns setores e em algumas regiões dos EUA, a cultura centrada no escritório está se tornando uma peculiaridade, e não a regra.

A Duolingo, empresa de aprendizado de idiomas com sede em Pittsburgh, exigia que seus funcionários fossem ao escritório três dias por semana; o diretor de recursos humanos da empresa disse estar confiante de atingir suas metas de contratação da mesma forma. Christiana Riley, CEO das Américas do Deutsche Bank, disse que a decisão do banco de exigir que seus cinco mil funcionários de Nova York voltem ao local de trabalho em tempo integral ou pelo menos dois dias por semana, dependendo de sua função, tinha um significado que ia além dos negócios, contribuía para a recuperação da cidade.

A Brown-Forman, empresa de vinhos e bebidas destiladas, pediu que a maioria de seus 950 funcionários em Louisville, no Kentucky, fosse trabalhar na sede pelo menos três dias por semana desde o mês passado.

“Embora a Brown-Forman não tenha visto um êxodo por causa das nossas políticas de retorno ao escritório, isso ainda é possível”, disse Eric Doninger, diretor de estratégias imobiliárias e de local de trabalho, explicando que a empresa entende os riscos da aposta. “Nossas instalações têm uma função a desempenhar na construção do negócio, no fomento a colaboração e a camaradagem.”



Outros executivos estão insistindo em um retorno com toda a força, confiantes no custo-benefício de terem profissionais em suas mesas cinco dias por semana. Tom Siebel, CEO da C3 AI, empresa de inteligência artificial com 800 funcionários, exigiu que seus trabalhadores voltassem ao escritório em tempo integral em junho de 2021. Ele disse que a exigência só aumentou o interesse da empresa por um determinado tipo de candidato a emprego.

“Para as pessoas que querem trabalhar de casa pelo Zoom, existem empresas para isso”, disse ele. “Vá trabalhar para o Facebook. Vá trabalhar para a Salesforce.”

Siebel disse que tinha “o único estacionamento cheio no Vale do Silício” e vê isso como uma vantagem competitiva. “Não inventamos foguetes que aterrissam sozinhos com pessoas trabalhando via Zoom uma vez por semana”, acrescentou o CEO.“Temos que nos reunir em uma sala, usar quadros brancos e falhar, e falhar e falhar até conseguirmos ter êxito.”

Mas para os executivos que não redobraram os esforços nessa aposta, questões maiores pairam sobre o futuro de seus escritórios. Como no caso de Manny Medina, CEO da Outreach, empresa de vendas com uso de inteligência artificial com cerca de 600 funcionários em Seattle, dos quais a maioria é incentivada a realizar 40% do tempo de modo presencial. Em um escritório quase vazio, Medina disse ter se acostumado a enfrentar as contestações dos funcionários a respeito da importância da colaboração presencial.



Recentemente, um funcionário júnior compareceu ao horário de atendimento virtual do CEO e disse que não entendia por que deveria ser obrigado a se deslocar quando trabalhar de casa lhe permitia equilibrar a produtividade com sua vida social e o treinamento de jiu-jitsu. “Eu disse: ‘Bom argumento, e você deve pensar em qual é sua prioridade’”, disse Medina. “Se você quer ser um lutador de MMA, vá fazer isso.”

Medina é um defensor do escritório há anos. Certa vez, ele foi convidado a participar de um debate sobre as vantagens do trabalho presencial versus o trabalho remoto com o CEO da Zapier na frente de milhares de pessoas. A maioria dos presentes concordava com o oponente dele. “Fiquei com a parte perdedora da conversa”, disse Medina. “Mas não foi como se tivesse perdido para uma vitória esmagadora.”

Essa discussão aconteceu em 2017. Cinco anos depois, ela ainda não acabou. “Tem uma lanchonete que serve frango frito perto do escritório que só como quando estou no trabalho”, acrescentou Medina. “Vejo o mar do meu escritório. Por que eu não viria trabalhar aqui?” /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

(TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA)

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