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sábado, 12 de março de 2022

Na selva corporativa fuja das teias das "aranhas"... Não seja um "grilo".




Trago Max Gehringer novamente para o palco do blog. Conto uma historinha sobre dois personagens: O Grilo e a Aranha. Primeiramente convido-os a ler a fábula e depois vamos conversar.



O QUE É... HIPOCRISIA?
É representar um papel levando em conta as prioridades pessoais

Fábula à grega em dois atos.
Personagens: o Gafanhoto Estressado e a Aranha Bem Intencionada.

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Cena um:



O Gafanhoto tenta convencer a Aranha de que um colega de trabalho dos dois, o Camaleão, é um hipócrita de carteirinha.

 - Esse Camaleão é um fingido, Aranha. Sempre mudando de cor conforme a ocasião.

 - Mas essa não seria só a natureza dele, Gafanhoto? Ele não foi criado desse jeito?

 - Nada! Antigamente ele fazia o mesmo que nós, dava duro para levar a vida. Depois, virou esse artista em tempo integral, sempre escondido atrás de disfarces e artimanhas.


- Mas por que ele faria isso?

- Para tirar proveito da situação. Ele fica ali, na moita, com aquela cara inofensiva, mas, na primeira oportunidade, abocanha os descuidados.

 - Puxa, é verdade. E eu, que passo horas tecendo a minha teia, no maior capricho...

 - E eu, que fico pulando de um lado para outro sem parar? É por isso que vivo estressado. Se me distraio, o Camaleão solta a língua e me pega.

 - É mesmo. Se você não me abre os oito olhos, eu nunca teria pensado nisso.

 - Porque você é singela e bem-intencionada. Sabe como chama o que o Camaleão está fazendo? Competição desleal no ambiente de trabalho!

 - Faz sentido. Você é um sábio, Gafanhoto.

 - Obrigado, Aranha. Mas o ponto é que não podemos, nunca, confiar no Camaleão.

 - Será que não haveria um jeito de neutralizá-lo? Bom, para nosso benefício mútuo, eu acho que tenho um plano infalível.

 - Tem?

 - Tenho sim. Escute, chegue mais perto...


Intervalo:


Se os antigos gregos não tivessem inventado as fábulas, a democracia e a filosofia (e, ademais, sacado que a soma do quadrado dos catetos era igual ao quadrado da hipotenusa), ainda assim eles teriam entrado para a história por sua habilidade para criar palavras. Como "hipotenusa". Ou "hipocrisia", termo que significa "abaixo da decisão".

Hipócrita, no teatro grego, era a maneira como o povo se referia ao ator que representava sem nunca tomar decisões sobre o texto. E seu talento estava em convencer a plateia de que ele não era ele mesmo, mas sim aquele personagem ali no palco.

Milênios se passaram e não surgiu palavra melhor para definir os hipócritas modernos, que continuam tão dissimulados quanto seus ancestrais. A diferença é que os hipócritas evoluíram. Agora, eles criam seus próprios diálogos. Por isso, no palco corporativo, a sobrevivência profissional depende da sensibilidade para identificar os personagens que estão contracenando conosco.

O Estressado, que ninguém aprecia muito, pelo menos é sincero ao  manifestar seus sentimentos. O que nem sempre é o caso do colega aparentemente bem-intencionado, em quem depositamos toda confiança e para quem abrimos nosso coração.

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Cena dois:


O Gafanhoto se aproxima para escutar o plano da Aranha. E se enrosca na teia. Imediatamente, ela o pica e começa a embrulhá-lo para o almoço.

 - O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, ARANHA? NÓS NÃO SOMOS COLEGAS E PARCEIROS?

 - Não leve a mal, meu caro Gafanhoto, mas essa é a lei aqui da selva: boa intenção é uma coisa e prioridade pessoal é outra...

FIM DA FÁBULA


A mensagem da fábula é claríssima. O Gafanhoto confiou em quem não devia e... Ferrou-se. Quem não já passou por situação semelhante? No ambiente de trabalho ou na vida fora do trabalho? Nas atividades sociais talvez? Em qualquer ambiente onde exista uma boa dose de camaradagem e aproximação por interesses comuns temos a tendência de confiar nas pessoas que nos são próximas. Notadamente aquelas que aparentam alguma afinidade conosco. Não é assim?

Conto uma passagem na minha vida profissional. Era diretor de uma empresa pública e na minha ascensão até ocupar essa alta função vieram comigo alguns camaradas que me ajudaram muito e que também foram promovidos em suas carreiras para posições de maior visibilidade, importância e remuneração.

Nessa vida de funções “ad nutum” você pode “cair em desgraça”, com seu superior na hierarquia, a qualquer momento e começar a ter problemas. Ocorreu comigo e fui demitido (exonerado) sem qualquer prévio aviso após mais de seis anos exercendo funções executivas na empresa. Meus companheiros de jornada – que eram técnicos – permaneceram em seus postos sob as ordens do diretor que me substituiu.

Naturalmente continuei a manter contato com eles. Era uma forma "conviver" um pouco com a corporação, saber novidades e de minimizar o golpe inesperado que recebera com a exoneração desrespeitosa e humilhante. Aliás, um erro que não cometi nunca mais.

Pois bem, não passado sequer um mês me aparecem todos os "camaradas" pedindo clara e diretamente – sem rodeios – "que eu não os procurasse mais, não telefonasse e nem fizesse qualquer contato porque o novo diretor estava com ciúmes e ameaçara veladamente retirar-lhes das funções remuneradas que ocupavam." 

Foi deprimente; um trauma pessoal ter vivido aquele momento e a atitude de pessoas que eu respeitava muito e com as quais convivera por longos anos, pleno de lealdades mútuas. Não gosto nem de lembrar.

Dito isso acho que posso ficar por aqui no comentário. Infelizmente nos ambientes corporativos, salvo raras exceções, há uma supremacia da luta pela sobrevivência entre os seus “habitantes”. Existindo ameaça à sobrevivência de alguma espécie na selva corporativa vão prevalecer os instintos animais de autopreservação. E aí é o vale tudo.

Em casos assim a surpresa fica sempre com o “gafanhoto” que não esperava atitudes desleais e pérfidas de seus presumíveis “amigos do trabalho”. Depois desse episódio aprendi, que "a traição será sempre surpreendente e imprevista exceto se não confiarmos em ninguém". Parece ser um clichê, tal a obviedade, mas lamento dizer que quando a gente confia de verdade, não espera traições.

Aprendi a lição. Após longo tempo, compreendi a atitude de fraqueza das pessoas e resolvi perdoá-los, tirar aquela perturbação da minha mente. Nunca mais os procurei e os cancelei da minha vida. 

Vida que segue e dois anos depois voltei a trabalhar com alguns daqueles "camaradas", pois voltei a ocupar, novamente a função de diretor (em outra área) na mesma corporação. Ah! Esqueci de dizer, os ''camaradas'' eram três estavam no ostracismo dentro da empresa. Dois deles vieram me procurar para se explicar e pedir desculpas: aceitei e os acolhi sob meu comando, novamente, mas dessa vez eu sabia com quem estava tratando e isso fez toda diferença.

Por isso concluo com uma mensagem simples àqueles leitores que estejam iniciando suas trajetórias profissionais. Aprendam que (infelizmente) ambientes de trabalho são selvas corporativas onde os predadores estão sempre à espreita. Conhecê-los o quanto antes garante uma blindagem que não lhes dará oportunidade de enroscá-lo em suas redes. Principalmente quando a percepção lhe indicar que são hipócritas. Estejam atentos e preparados para escapar de suas teias. Não abram espaço e testem aqueles que estejam mais próximos.

Não sejam grilos para cair nas teias das aranhas corporativas. Elas podem estar bem aí, ao seu lado.


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