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domingo, 18 de julho de 2021

O que a demissão de Rogério Ceni do Flamengo ensina sobre liderança


No dia da estreia de Rogério Ceni como técnico do Flamengo (11/11/2020), escrevi um post na Oficina de Gerência intitulado "Rogério Ceni será submetido à Fórmula da Liderança".

No artigo eu disse que se Rogério não conseguisse dominar as variáveis da "Formula" (grupo dos jogadores,  situação do clube e ele próprio como líder)  ele não iria demorar muito. A fórmula da liderança é implacável; e não deu outra.  O técnico, ídolo do futebol brasileiro como jogador, foi, como que,  praticamente banido da Gávea.

Por quê? Ficou a pergunta no ar. Na minha avaliação como gestor, Rogério caiu porque não dominou nenhuma das variáveis da fórmula L=f (l, s, g): ele mesmo (líder), o plantel de atletas (grupo) e o ambiente de trabalho (situação). Para mim não foi nenhuma surpresa.

A explicação do Flamengo para a demissão do seu técnico foi  feita através de uma notinha curta e discreta que nem merece ser transcrita aqui porquanto não expressou a verdade dos fatos.  Apenas transmite que ele não foi demitido, foi é “retirado às pressas”.

Rogério saiu do Flamengo com um retrospecto de, em 44 jogos, haver vencido 23, empatado  11 e perdido 10. Nesse breve período conquistou o Brasileirão de 2020, a Supercopa do Brasil 2021 e o Campeonato Carioca de 2021. Ás vésperas da demissão 

Pelo que está aí, não foi por deficiência técnica que o comandante do time foi afastado. O que se sabe é que Rogério foi "detonado" internamente.  Dias antes da sua demissão, em um áudio "vazado", um funcionário de alto escalão administrativo no departamento de futebol do clube, falou cobras e lagartos do Rogério Ceni. Veja abaixo a transcrição de um trecho do áudio: 

[...] "Cara, ele é uma pessoa ruim. Não tem outra definição. É uma pessoa ruim. O cara é perdido, faz m***, critica departamentos. Ele não tem respaldo do pessoal de cima, deixa ele meio perdido aqui. Mas ele está lá há quase um ano já, ele nunca se interessou em sentar-se com o pessoal da análise de desempenho, que são os caras de tática e tal, para ver quais são os processos, o que que faz. Ele nunca se interessou em sentar-se no nosso departamento, virar e falar: "gente, estou precisando de pessoas, de jogadores, de um cara assim, o que vocês têm? Me ajudem"  [...].

Se estiverem interessados em ouvir o áudio inteiro clique aqui . 

Esse foi o estopim da crise. O funcionário foi demitido sumariamente e Rogério, alguns dias depois, de madrugada, em meio a uma campanha de tropeços no Brasileirão e  às imensas reclamações da torcida e de dirigentes do Flamengo. 

Rogério desagradou A todos porque não soube se ajustar ao "ambiente" do clube, o que cá pra nós, é muito, muito complicado para um cara que tem apenas 4 anos de profissão; e trajetória  como técnico, diga-se de passagem, meio tumultuada com demissões no São Paulo e Cruzeiro, apesar do sucesso com o Fortaleza.

Deve ter aprendido que liderança de sucesso não depende apenas de si mesmo.  Foi uma dura lição, mas deve se recuperar porque tem uma base boa e o respaldo (que ajuda muito) de conhecer o meio como grande ídolo que foi do São Paulo

Para completar este comentário, sugiro que leiam o excelente artigo abaixo, que transcrevi do site da revista Exame. Foi o melhor texto que li sobre a demissão do Rogério, analisada à luz dos princípios da liderança e da gestão.  Recomendo que os jovens executivos em princípio de carreira leiam e guardem a boas lições ele evoca.




O que a demissão de Rogério Ceni do Flamengo ensina sobre liderança

Com passagens no comando do próprio São Paulo, Fortaleza e Cruzeiro, Rogério Ceni ainda tem pontos de amadurecimento como líder, na visão de especialista em carreira

Ele foi um sucesso inegável dentro dos campos de futebol, protegendo o gol do time São Paulo. Já na liderança dos times, a excelência de Rogério Ceni não é a mesma. Com cerca de quatro anos de carreira como técnico, o ex-goleiro foi demitido na madrugada deste sábado pelo Flamengo.

Como jogador, ele foi o nome que atuou mais tempo com a camisa do clube paulista, recebeu prêmios de melhor goleiro e estava na seleção brasileira durante a Copa de 2002.

Na madrugada deste sábado, às 2h46, o clube rubro-negro informou que ele estava de fora do comando do time. Informações dos bastidores afirmam que a sexta-feira foi intensa nas reuniões da diretoria rubro-negra, segundo apuração de sites especializados como o Globo Esporte.

Rogério Ceni foi contratado em novembro de 2020 e teve seu contrato encerrado antes de completar um ano. Ele não teria resistido aos resultados ruins do início Brasileirão e ao clima interno ruim.

Com passagens no comando do próprio São Paulo, Fortaleza e Cruzeiro, Rogério Ceni ainda tem pontos de amadurecimento como líder que precisariam acontecer para o sucesso à frente de um time como o Flamengo. Esta é a visão do CEO da consultoria Mappit, Rodrigo Vianna, que também é especialista em carreira e ex-jogador de futebol.

"Essa demissão não aconteceu da noite para o dia. Ela culminou na madrugada, na calada da noite, em virtude de um fato recente que foi o vazamento de um áudio de um profissional da área de gestão da companhia. Como nas empresas, muitos dos processos de saída de CEOs não são da noite para o dia. Fatos foram acontecendo que culminaram numa situação em que não havia mais sustentação da figura do Rogério como líder, mas isso não significa que ele não tinha uma boa relação com os jogadores", explica Rodrigo.

Ao fazer um paralelo com executivos de fora do ramo esportivo, Rodrigo Vianna destaca também que a carreira de Rogerio Ceni como técnico está no início.

"Muitas vezes quando você é diretor de empresa, por exemplo, e tem uma carreira indiscutível, não significa que sendo CEO você vai ter uma carreira tão indiscutível quanto. Isso porque a posição de CEO precisa de aprendizado constante, construção de relação. Não é porque o cara chegou onde chegou que deve achar que pode deixar de aprender", opina. "Quanto mais você cresce, mais importante são as relações e a união das pessoas em prol de um objetivo".

Na visão do especialista em carreira, o papel de um técnico e de um profissional com a posição de um CEO, por exemplo, é de o de reger uma orquestra, criar harmonia entre as posições e fazer alterações quando necessário para corrigir falhas.


Para Rodrigo, a demissão de Ceni provou que não era isso o que vinha acontecendo no Flamengo. Na visão dele, faltou para o ex-goleiro algum amadurecimento e tempo à frente das equipes pelas quais passou antes de abraçar o comando de um time do porte do rubro-negro.

"A gente não pode passar muito rápido por alguns etapas porque senão não nos preparamos. Ele sai do futebol e se torna técnico do São Paulo. Será que naquela época ele já estava preparado para ser técnico? Naquele momento, talvez não. Acho que ele poderia ter passado por outros clubes menores, como ele fez depois, indo para o Fortaleza, onde ele foi muito bem. Ele sai do São Paulo quase demitido, tem um bom resultado no Fortaleza e aí vai para o Cruzeiro".

No caso do clube mineiro, Rodrigo afirma que faltou para o técnico entender que o time estava fraco e acabou sendo demitido pela falta de sintonia com o time. Depois disso, o ex-goleiro volta para o Fortaleza até que surge a oportunidade do Flamengo.

"O Flamengo é um time que vinha muito bem treinado pelo Jorge Jesus. O Rogério chega lá como um cara que eventualmente acha que sabe bastante. Acho que faltou para ele ouvir, para fazer com que o time andasse melhor. Esse é um grande erro que acontece com executivos que chegam a posições de comando também. É preciso envolver envolver as pessoas, fazer as conexões e aí depois tomar as decisões"  (Rodrigo Vianna, CEO da Mappit e especialista em Carreira)

Teria faltado para o técnico, na avaliação de Rodrigo, a capacidade de gerar engajamento em toda a comunidade do clube e senso de pertencimento. Rodrigo ressalta que a falta de comunicação entre o time de gestão e inteligência do Flamengo - responsável por monitorar a performance dos jogadores - foi um dos pontos crucias para a relação ter azedado. Sem uma boa relação entre esse time do clube e o técnico, "não tem como dar certo", na visão de Rodrigo.

2 comentários:

  1. Oi, Herbert!
    Não entendo nada de futebol, mas o que ouvi superficialmente em programas esportivos é que ele era bem cru para a função. Não ser aceito, não ajuda ninguém a desenvolver um trabalho.
    Beijus,

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    Respostas
    1. Olá Luma! Você tem total razão no seu comentário. Não pude desenvolver muito no post essa vertente do assunto. O Ceni pagou o preço de, além de ser muito recente na profissão de técnico, estar recém saído de uma posição ímpar como ídolo de um grande clube (São Paulo). Isso mexe com a cabeça de quem nunca exerceu a função de liderar, de comandar.
      Ele foi e ainda será por algum tempo, vítima da arrogância e da vaidade. Deve ser daquelas pessoas com certezas absolutas e sem humildade para compartilhá-las com seu grupo e seus auxiliares. Ainda vai apanhar muito na profissão; eu mesmo já fui "vítima" dessa arrogância em determinado momento da minha carreira de executivo. Tive um enorme prejuízo funcional que me custou uma exoneração (!).
      Portanto, você, apesar de "não entender nada de futebol", entende da vida e das pessoas. Foi certeira na sua análise.
      Grande abraço, prazer e honra, sempre, de vê-la aqui na Oficina. Volte sempre.

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Convido você, caro leitor, a se manifestar sobre os assuntos postados na Oficina de Gerência. Sua participação me incentiva e provoca. Obrigado.