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terça-feira, 9 de novembro de 2021

A missão maior daquele que detém a autoridade. Conheça.




Q

uem acompanha a Oficina de Gerência sabe que não escrevo sobre política ou religião objetivando adotar qualquer posicionamento. É cláusula pétrea da "linha editorial" no blog. Porque estou dizendo isso? Porque o texto abaixo foi extraído do famoso livro "O evangelho segundo o espiritismo" de Allan Kardec. E por que o estou colocando aqui? Respondo: porque muito mais do que uma escrita de conteúdo espírita o texto aborda uma questão que tem tudo a ver com o mundo corporativo e obviamente com a vida propriamente dita. É muito sábio e foi escrito, ou melhor, psicografado em 1863 cuja autoria é atribuída ao espírito do Cardeal Morlot.
Ao conhecer o texto não pude resistir em trazê-lo para o blog uma vez que trata das  relações entre superiores e subordinados (que são chamados de inferiores no texto sem que haja qualquer preconceito, apenas uma questão de linguagem na época em que foi escrito).
Destaquei para ilustrar essa breve apresentação do artigo o seguinte trecho:
  • [...] "Quem quer que seja depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em consequência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao bem." [...]


Posso me posicionar a esse respeito com o crédito que tenho junto àqueles que trabalharam comigo e sob meu comando. Sempre foi princípio maior de minha conduta o respeito absoluto aos colaboradores e subordinados. 
Sempre considerei que ao assumir funções de chefia fazia parte dela a responsabilidade inerente de ensinar, apoiar, fazer crescer, orientar, descobrir e despertar competências e tudo que pudesse para transformar os componentes das minhas equipes em seres melhores e em todos os níveis possíveis.
Também como subordinado procurei manter o mesmo nível de procedimentos primando até com certo excesso pela lealdade aos meus iguais e superiores da mesma forma que a exigia dos subordinados. Para mim é na conceituação da lealdade que está centrada toda a riqueza de uma relação de trabalho, de amizade, de amor, de vida.
Por isso recomendo aos amigos leitores que não percam a oportunidade de ler o que está escrito abaixo e refletir muito para aplicar permanentemente os ensinamentos nele contidos adaptando-os às próprias crenças.
Da mesma forma os oriento a copiá-lo para guardar em local onde o possam consultar regularmente e transmiti-lo aos que fazem parte de suas vidas, sejam seus iguais, superiores ou subordinados. 


Cardeal  Morlot

Os Superiores e os Inferiores

A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um direito, uma propriedade. Deus, aliás, lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu consentimento. Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando julga conveniente.

Quem quer que seja depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em consequência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao bem. Todo homem tem na Terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem; falseá-la em seu princípio é, pois, falir ao seu desempenho.


Assim como pergunta ao rico: "Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a espalhar a fecundidade ao teu derredor", também Deus inquirirá daquele que disponha de alguma autoridade: "Que uso fizeste dessa autoridade? Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio."


O superior, que se ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de Deus. Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade.


Mas, se o superior tem deveres a cumprir, o inferior, de seu lado, também os tem e não menos sagrados. Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe dirá que não pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe de dar cumprimento aos que lhe correm, porquanto sabe muito bem não ser lícito retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outrem. Se a sua posição lhe acarreta sofrimentos, reconhecerá que sem dúvida os mereceu, porque, provavelmente, abusou outrora da autoridade que tinha, cabendo-lhe, portanto, experimentar a seu turno o que fizera sofressem os outros. Se se vê forçado a suportar essa posição, por não encontrar outra melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se, como constituindo isso uma prova para a sua humildade, necessária ao seu adiantamento. Sua crença lhe orienta a conduta e o induz a proceder como quereria que seus subordinados procedessem para com ele, caso fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe está determinado redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem deve ele o seu tempo e os seus esforços. Numa palavra: solicita-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho reto implica uma dívida que, cedo ou tarde, terá de pagar. -
François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. (Paris, 1863.)

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