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domingo, 8 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher - Que seja um dia de todas as mulheres e não apenas de algumas...

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Às muitas mulheres da minha vida.

Escrevo este texto para Val, esposa, mulher e companheira de tantos anos e minha filha (Drica), mais que amadas, adoradas. Para minha querida norinha, Cinthia, que tantas alegrias trouxe para minha casa.

Para as manas, Ana e Ângela tão amadas quanto minha propria vida. Às cunhadas, sobrinhas e amigas de sempre (incluindo aquelas, tão queridas quanto recentes, que fiz na blogosfera); amo-as todas.

À minha mãe, D. Alba, a mulher de sempre na minha vida, que não está nesse plano espiritual, mas é lembrada em minhas orações todos os dias.

Para as mulheres da minha vida (em todas as esferas e de todos os mundos) quero tributar um profundo e invulgar sentimento de admiração exatamente por serem (ou terem sido, neste plano), mulheres.

Como homem, vivido e "rodado" neste mundo de tantos e diários paradoxos sei, compreendo e percebo como é dificil ser mulher nos tempos complexos e de tantos conflitos e disputas em que vivemos.

Meu preito neste dia especial é para reiterar a dedicação do meu espírito e da minha mente ao propósito e disposição de alinhar-me, como faço desde há muitos anos, com todos e todas que lutam cotidianamente nas trincheiras contra os (ainda) muitos preconceitos que fazem das mulheres, injustamente, personagens de segundo escalão no plano machista da vida neste planeta.

Que o Dia Internacional da Mulher não se restrinja apenas a esta data, mas se prolongue infinitamente por todos os dias.

Para "fechar com chave de ouro" este post tão singelo quanto sincero e emotivo, escolhi como minha personagem, símbolo da mulher, a magnífica poetisa Cora Coralina; ela colocou sempre, antes de tudo e de todas as vidas que viveu e sacrificios que sofreu, a condição de mulher como bandeira inarredável de sua existência.

Leiam a sua poesia "Mulher da Vida, minha irmã" que é um hino à mulher sofrida e verdadeira que, verdadeiramente, povoa nosso mundo



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Mulher da vida, minha irmã

(por Cora Coralina)

(Poesia dedicada, por Cora Coralina, ao Ano Internacional da Mulher em 1975.)

Mulher da Vida, minha Irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.

Ela vem do fundo imemorial das idades e
carrega a carga pesada dos mais
torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.

Mulher da Vida, minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por
aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas,
Escorchadas. Discriminadas.

Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.

Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria, da
pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes da Terra.

Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens que
a tinham maculado. Aflita, ouvindo o
tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e
lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.

As pedras caíram
e os cobradores deram s costas.
O Justo falou então a palavra de eqüidade:
“Ninguém te condenou, mulher...
nem eu te condeno”.

A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém
as urgências brutais do homem para que
na sociedade possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.

Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.

E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.

Mulher da Vida, minha irmã.
No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça
do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.

E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco em
novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrutível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.

Mulher da Vida, minha irmã.
Declarou-lhe Jesus:
“Em verdade vos digo
que publicanos e meretrizes
vos precedem no Reino de Deus”.
Evangelho de São Mateus 21, ver.31.

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