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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Desculpas ao esporte e aos atletas brasileiros. (imperdível)

*
Conheço, pessoalmente, o Professor Ronaldo Pacheco. A seu respeito atesto que se tivesse de listar dez profissionais dedicados à causa de suas carreiras, o nome dele estaria incluído entre os primeiros na coluna do esporte e da educação física.
Conheci Ronaldo como técnico de basquete (sua grande paixão) do Clube Vizinhança de Brasília (por onde passaram atletas como Oscar e Pipoka entre muitos outros). Professor em tempo integral, mesmo comandando diversos grupos de atletas, jovens (e irrequietos) adolescentes, sua preocupação principal era educar aqueles garotos, muitos deles vindos de comunidades carentes da periferia em choque cultural direto com outros de origem mais privilegiada. Mesmo no calor das disputas à beira da quadra, como técnico, nunca o vi perder a desportividade e a preocupação com a integridade fisica e moral dos seus atletas. Detalhe (importante): mantinha os "pais de atletas" - como era meu caso - e outros "corneteiros" (não me incluia nesta lista) distantes do seu trabalho. E com razão. Poderia treinar grandes clubes do Brasil - e tem competência para isso - mas preferiu a cátedra, a universidade, a vida acadêmica na UnB. Seu currículo - clique aqui para ver - fala por ele.
Com estas credenciais resolvi - sem nenhum favor - publicar a brilhante e oportuna página que Ronaldo Pacheco produziu, originalmente, para o seu grupo de amigos e que já está se irradiando - com sucesso explicável quando você ler o texto - pela Internet. O blog do Juca Kfoury já o reproduziu.
No artigo, o Prof. Ronaldo escreve - exatamente - o que eu e milhões de outros brasileiros, que amam o esporte, estamos sentindo em relação aos resultados da participação de atletas brasileiros nas recém encerradas Olimpíadas de Pequim. Eu mesmo estava pensando em escrever algo a respeito e ainda bem que esperei baixar a poeira. Dessa maneira conheci o texto do Prof. Ronaldo e não faria melhor. Assino embaixo.
O que ele escreve é a pura verdade registrada por alguém que tem plena autoridade para fazê-lo. Espero que o artigo repercuta para ajudar na conscientização de uma parte (ruim) da mídia que já se inicia no surrado processo de "caça às bruxas" aos "perdedores", como se perdedores existissem numa olimpíada. Chega de papo e vamos ao artigo, não sem antes parabenizar a inspiração do Prof. Ronaldo Pacheco.
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"Vendo os atletas brasileiros pedindo desculpas pela não obtenção de medalhas refletindo sobre o que se faz pelo esporte no Brasil, resolvi escrever este texto que na minha opinião reflete sobre quem deve desculpas a quem. " .

Desculpas ao esporte e aos atletas brasileiros (Prof. Ronaldo Pacheco*)
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"Desculpem pela falta de espaços esportivos nas escolas;
Pela falta de professores de educação física nas séries iniciais;
Pelas escolinhas mercantilizadas que buscam quantidade de clientes e não qualidade de aprendizagem;
Desculpem pela falta de incentivo na base;
Desculpem pela falta de praças esportivas;
Desculpem pelo discurso de que “o esporte serve para tirar a criança da rua” (é muito pouco se for só isso!);
Desculpem pela violência nas ruas que impede jovens de brincar livremente, tirando deles a oportunidade de vivenciar experiências motoras;
Desculpem se muito cedo lhe tiraram o “esporte-brincadeira” e lhe impuseram o “esporte-profissão”;
Desculpem pelo investimento apenas na fase adulta quando já conseguiram provar que valia a pena;
Desculpem pelas centenas de talentos desperdiçados por não terem condições mínimas de pagar um transporte para ir ao treino, de se alimentar adequadamente, ou de pagar um “exame de faixa”;
Desculpem por não permitirmos que estudem para poder se dedicar integralmente aos treinos.
Desculpem pelo sacrifício imposto aos seus pais que dedicaram seus poucos recursos para investir em algo que deveria ser oferecido gratuitamente;
Desculpem levá-los a acreditar que o esporte é uma das poucas maneiras de ascensão social para a
classe menos favorecida no nosso país;
Desculpem pela incompetência dos nossos dirigentes esportivos;
Desculpem pelos dirigentes que se eternizam no poder sem apresentar novas propostas; Desculpem
pelos dirigentes que desviam verbas em benefício próprio;
Desculpem pela falta de uma política nacional voltada para o esporte;
Desculpem por só nos preocuparmos com leis voltadas para o futebol (Lei Zico, Lei Pelé, etc.);
Desculpem se a única lei que conhecem ligada ao esporte é a “Lei do Gérson” (coitado do Gérson);
Desculpem pelos secretários de esporte de “ocasião”, cujas escolhas visam atender apenas, promessas de ocupação de espaços político-partidários (e com pouca verba no orçamento);
Desculpem pelos políticos que os recebem antes ou após grandes feitos (apenas os vencedores) para usá-los como instrumento de marketing político;
Desculpem por pensar em organizar “Olimpíadas” se ainda não conseguimos organizar nossos ministérios; nossas secretarias, nossas federações, nossa legislação esportiva;
Desculpem por forçá-los, contra a vontade, a se “exilarem” no exterior caso pretendem se aprimorar no esporte;
Desculpem pela cobrança indevida de parte da imprensa que pouco conhec
e e opina pelo senso comum.
Desculpem o povo brasileiro carente de ídolos e líderes por depositar em vocês toda a sua esperança;
Desculpem pela nossa paixão pelo esporte, que como toda paixão, nem sempre é baseada na razão;
Desculpem por levá-los do céu ao inferno em cada competição, pela expectativa criada;
Desculpem pelo rápido esquecimento quando partimos em busca de novos ídolos;
Desculpem pelas lágrimas na derrota, ou na vitória, pois é a forma que temos para extravasar o inexplicável orgulho de ser brasileiro e de, apesar de tudo, acreditar que um dia ainda estaremos entre os grandes."
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* Prof. MSc. Ronaldo Pacheco de Oliveira Filho
Prof. da Secretaria de Educação do DF (cedido à UnB)
Prof. da Universidade Católica de Brasília
ronaldo.pacheco.f@terra.com.br
ronaldop@ucb.br


3 comentários:

  1. Para mim, que sou brasileiro, a maior dificuldade é conviver com os constrastes do meu país. Ricos, pobres, negros, brancos, cada um com seu mundinho fechado e pouco preocupado com o mundinho do outro. Nesta época de celebração, de esportes, juntamos todos no mesmo ideal: nossos atletas, nossa pátria, nosso hino. A emoção de ver e ouvir nossa música maior, acompanhada de nossos atletas é muito, muito mesmo emocionante. O que me entristece é a demagogia criada neste período. De Fernando Henrique a Lula todos, neste momento, aproveitam-se para dizer que vão fazer e acontecer. E quem viver verá, sabe que nada vai mudar. Prioridade é trazer para cá os jogos Olímpicos de 2016. Quem não quer gastar U$ 45 bilhões de dólares e a maior parte sem licitação. Quem se lembra do Pan2007? Talvez esse seja a maior problema do nosso país. Ao invés de plantar para colher, quer primeiro colher. Por curiosidade, fiz um levantamento desde 1996. A progressão chinesa do número de medalhas é incrível. Desde 1996 até 2008. Eles subiram de quarto para primeiro no quadro de medalhas, ultrapassando os EUA e muito. Sabe o que eles fizeram? Do jeito deles, investiram e muito nos esportes. Como nosos políticos e administradores são muito bons. Primeiro eles querem trazer uma olímpiada e quem sabe depois investir nos atletas.

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  2. Anônimo,
    Primeiro, um comentário tão pertinente e bem escrito merecia ter autor, mas é um direito seu o anonimato. Parabéns pelas palavras!

    Infelizmente nossos dirigentes têm o péssimo hábito de colocar o carro à frente dos bois, resumindo o que você falou.

    Herbert, desculpe a audácia de responder um comentário em seu blog, mas este foi tão coerente que não me contive.

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  3. Caro Anônimo, agradeço sua visita e principalmente ótimo comentário que deixou, abrilhantando o post. O Ronaldo tem razão. O seu texto merece uma autoria (nem que seja com pseudônimo).
    O levantamento sobre a participação chinesa nas olimpíadas eu também o conheci. Impressiona pela visão, claríssima, do planejamento meticuloso de longo prazo que foi feito para culminar – como aconteceu - no sucesso, da China, nas olimpíadas de Beijing.
    Infelizmente não dá para imaginar o nosso país gastando tantos bilhões de dólares e com a disciplina necessária para viabilizar, em prazo razoável, algo semelhante. Nossas prioridades são outras e suas demandas não aceitam adiamento. Nem vou listá-las. Todo brasileiro, minimamente informado, as conhece partindo daquela que é a principal, a educação, a escola, os professores, a universidade. É ai que o principal investimento deve ser feito para se montar um planejamento de participação olímpica, respeitável, pelo Brasil.
    Atletas como Maurren Maggi (que considero a maior do Brasil), César Cielo e as moças do voleibol – para citar apenas as três medalhas de ouro conquistadas – são exceções à regra. O normal são atletas que se iniciaram no esporte sob seus próprios custos e por não ter grandes alternativas nas suas vidas. Existe um estudo, conheci –o há pouco tempo, que faz uma relação entre um atleta de nível olímpico e o seu início, na base. Por essa pesquisa, são necessários 20.000 garotos e/ou garotas para, no processo de seleção, se produzir um atleta de alto rendimento. Pare e pense o que isso representa.
    Por isto, mesmo com os imprevistos fracassos de Diego Hipólito, João Derly e outros, não é justo criticar os atletas. Eles, todos, na verdade são heróis e heroínas. Tem um post belíssimo sobre o tema “Desculpas ao esporte e aos atletas brasileiros”. Leia-o para aumentar o seu nível de consciência que você já demonstra ter em grau avançado. Observe que o Brasil foi o melhor classificado entre os países da América Latina.
    Nossa! Já falei demais. Até breve e volte sempre.

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