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domingo, 22 de novembro de 2009

Como o absurdo molda o intelecto humano (New York Times/FSP)


O Quartier Bruegel (Pieter Brueghel,  o Velho) - [clique sobre o quadro]



    Fiquei em duvida se publicava este ensaio que li no suplemento do New York Times que a Folha de São Paulo publica todas as segundas feiras. Li o texto e o considerei provocativo e intrigante.

    O título já nos leva à curiosidade: "Como o absurdo molda o intelecto humano". Aliás, foi ele que me levou a ler o artigo.

    O ensaio do jornalista Benedict Carey  nos conduz a pensar que quando o cérebro humano enfrenta circunstâncias e ocorrências fora do padrão - consideradas absurdas pelo senso comum - é capaz de criar novos arquétipos e modelos de percepção que normalmente não são percebidos.

    É uma teoria que está sendo estudada por cientistas como informa o autor do ensaio. Só para provoca-los um pouco mais transcrevo um trecho do artigo:
  • [...] "Quando tais padrões se rompem — por exemplo, se alguém tropeça em uma poltrona no meio da floresta, como que caída do céu—, o cérebro tateia em busca de algo que faça sentido. Ele pode, em alguns casos, voltar sua atenção ao exterior, argumentam os pesquisadores, e notar, digamos, um padrão previamente oculto na trilha dos animais. A urgência em encontrar um padrão coerente torna mais provável que o cérebro encontre um." [...]
    Que tal? Não é estranho se pensar nisso. Todavia enquanto a gente vai lendo um pouco mais as coisas vão fazendo e sentido e começamos a achar que essas coisas são possíveis. Quer tentar?







Benedict Carey
Ensaio

Como o absurdo molda o intelecto humano

Quando as coisas não se encaixam, a cabeça funciona mais

Além de variadas marés de sorte e azar, a vida também oferece eventuais experiências que violam toda a lógica e as expectativas. O filósofo Soren Kierkegaard escreveu que tais anomalias produzem uma profunda “sensação do absurdo”. Freud atribuiu tal sensação a um medo da morte, da castração ou de “algo que deveria ter permanecido escondido, mas veio à luz”.

Na melhor das hipóteses, a sensação é desorientadora. Na pior, é arrepiante.

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Agora, um estudo sugere que, paradoxalmente, essa mesma sensação pode preparar o cérebro para notar padrões que, do contrário, lhe escapariam —em equações matemáticas, na língua, no mundo em geral. “Ficamos tão motivados a nos livrar daquela sensação que procuramos significado e coerência em outro lugar”, disse Travis Proulx, pesquisador da Universidade da Califórnia, Santa Barbara, e coautor do estudo publicado na revista “Psychological Science”. “Canalizamos a sensação para algum outro projeto, e isso parece melhorar alguns tipos de aprendizado.”
 
Os pesquisadores há muito tempo sabem que as pessoas se aferram mais firmemente às suas inclinações pessoais quando se sentem ameaçadas. Após pensarem na sua própria morte inevitável, elas se tornam mais patrióticas, mais religiosas e menos tolerantes a estranhos, segundo os estudos.

Em uma série de novos estudos, Proulx e Steven Heine, professor de psicologia da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), argumentam que essas descobertas são variações sobre o mesmo processo: a manutenção do significado ou da coerência. O cérebro evoluiu para predizer e faz isso identificando padrões.

Quando tais padrões se rompem —por exemplo, se alguém tropeça em uma poltrona no meio da floresta, como que caída do céu—, o cérebro tateia em busca de algo que faça sentido. Ele pode, em alguns casos, voltar sua atenção ao exterior, argumentam os pesquisadores, e notar, digamos, um padrão previamente oculto na trilha dos animais. A urgência em encontrar um padrão coerente torna mais provável que o cérebro encontre um.

“Há mais pesquisa a ser feita a respeito da teoria”, disse Michael Inzlicht, professor-assistente de psicologia da Universidade de Toronto, já que pode ser o nervosismo, e não a busca de significado, que leva a um estado mais elevado de vigilância.

No estudo mais recente, Proulx e Heine fizeram 20 universitários lerem um conto absurdo baseado em “Um Médico Rural”, de Franz Kafka. O médico do título tem de visitar um menino com dor de dente, mas descobre que o menino não tem dentes. Os cavalos que puxaram sua carruagem começam a se comportar mal; a família do menino se chateia; o médico descobre que o menino afinal tem dentes. E assim por diante.

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Após o conto, os alunos estudavam uma série de 45 sequências de 6 a 9 letras, como “X, M, X, R, T, V”.
Depois faziam um teste, escolhendo entre 60 sequências aquelas que eles achavam que já haviam visto antes. Na verdade, essas letras eram relacionadas, de modo muito sutil, com algumas mais propensas a aparecerem antes ou depois de outras.

O teste é uma medida-padrão daquilo que os pesquisadores chamam de aprendizado implícito: o conhecimento obtido sem consciência. Os estudantes não tinham ideia de quais padrões seus cérebros estavam percebendo, ou como era o desempenho deles.
Mas eles se saíram bem. Escolheram cerca de 30% mais sequências de letras e tinham quase o dobro de acertos nas suas escolhas, em comparação a um grupo de 20 estudantes que haviam lido outro conto, coerente.

“O fato de que o grupo que leu a história absurda identificou mais sequências de letras sugere que [esses estudantes] estavam mais motivados a procurar padrões do que os outros”, disse Heine. “E o fato de que eles eram mais precisos significa, achamos, que eles estavam formando novos padrões que de outra forma não conseguiriam formar.”

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