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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Workaholics não devem ser admirados, devem receber ajuda. São vítimas do sistema corporativo


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O texto ao lado abre uma ótima reportagem da jornalista Érica Fraga da Folha de São Paulo que aborda uma questão pouco percebida pelos executivos brasileiros em particular e de todo o planeta no geral.
Falo do "levar serviço para casa" ou em outras palavras "não desligar do trabalho" ou ainda do "vício e da obsessão de trabalhar compulsivamente" e tantas outras expressões que caracterizam as pessoas - homens ou mulheres - que não conseguem se desvencilhar das amarras que os prendem às suas atividades profissionais. São os workaholics.
Leiam o trecho que está na imagem ao lado. Lá está escrito que "sete em cada dez profissionais - que ocupam cargos como analista, gerente e supervisor - afirmam que passam mais tempo no escritório hoje do que há cinco anos". E seguem com alguns outros aspectos de uma pesquisa recente feita por uma consultoria de recrutamento de executivos que ouviu 1.090 profissionais com faixa salarial entre cinco e quinze mil reais.
Não coloquei a íntegra da matéria nesse post por razões óbvias, mas se o leitor quiser ler é só clicar aqui. Embora o foco que a jornalista colocou sobre o texto tenha sido a utilização excessiva de e-mail e celular eu vou um pouco mais além.
A cola que prende o workaholic ao seu trabalho é muito mais que o manejo compulsivo de ferramentas como e-mail, celular, notebook, tablet, gravador e outros "gadgets" que inundam o universo dos chamados brinquedos corporativos. E isso sem falar nos tradicionais bloquinhos de anotações que a gente escreve os lembretes e arranca as páginas para futuras providências.
Quer coisa mais comum do que aqueles caras que estão nos shoppings, aeroportos, bares, restaurantes e nas rodoviárias passando e-mails e consultando anotações? Até em teatro eu já vi um maluco desses! É uma febre.
Em minha opinião existe um pouco de exibicionismo nesses comportamentos. Normalmente estas pessoas são jovens ou adultos imaturos que necessitam de atenção pública do tipo "Vejam, eu sou um viciado no trabalho". Sim, porque ser um workaholic em algumas corporações é uma "marca de qualidade". Qualquer profissional que tenha trabalhado em grandes organizações sabe disso.
Tenho um amigo médico que passou muito anos trabalhando em uma multinacional norteamericana no setor de recrutamento. Ele me confessou que havia uma instrução -  não formal - da empresa para que os indivíduos ansiosos e com características de workaholics fossem identificados, pois teriam uma pontuação maior que os demais para efeito de contratação. Acredito mesmo que muitas corporações ainda se utilizem desses expedientes.
O que posso dizer da minha experiência?
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpFx1ZYIBZM3Yo_U6uwF-LFu41hqYfNiDRJFh_-nU1qNf_u6p_SOeYplkMbDQWiPqneB0Lnvyb-wvoys1QvxxFhu_B93OJSTNroBBimb6FHgIbnrz0ZV0vw0MwHQ_MBclwuczNBQIeiBN8/Primeiro que já pertenci a esse clube. Fui um workaholic sim! E não tenho nenhum orgulho disso. Além de sair o mais tarde possível do escritório e de levar pilhas de processos e assuntos para resolver em casa (naquela época não existia nem telefone celular quanto mais computador) ficava incomodando meus colaboradores por telefone à noite  como se eles continuassem à minha disposição depois do expediente. Um horror!
Melhorei um pouco depois de casar e quando um grupo de funcionários mais próximos começou a deixar "torpedos" (anônimos) sobre minha mesa com aquelas mensagens do tipo "quem trabalha demais morre enfartado". Mesmo assim ainda insistia em trabalhar mais do que o essencial. Afinal de contas eu era o chefe e precisava dar o exemplo... Um erro comum aos workaholics.
Segundo, tive um choque de realidade quando um engenheiro que operava na mesma região onde eu estava (ele não pertencia a minha empresa) e que era admirado e invejado (no bom sentido) por todos os que conviviam com ele exatamente por ser um obcecado pelo seu trabalho, morreu estupidamente em uma das muitas viagens diárias que ele fazia no seu avião bimotor. Era uma aeronave que a empresa (uma grande construtora) deixava-lhe à disposição como se fosse um carro na garagem. Acho que ele tinha uns quarenta e cinco anos. Deixou esposa, filhos, muitos amigos e uma grande lição para mim pelo menos.
Lembro que passei vários dias deprimido e ninguém sabia por que... Afinal de contas o cara nem era meu "chegado", mas era um modelo de profissional que eu cultivava. Eu queria ser como ele! Muito poder, amigos igualmente poderosos, notável, influente, muito dinheiro... Avião à disposição, conforto e mordomias mil para mim e minha família. Sim! Era assim que eu projetava meu futuro. De repente percebi que estava com o projeto errado e mudei. Fiquei "curado", mas também à custa de muitas leituras, cursos e reflexões.
Atualmente as empresas estão mais conscientes a respeito dos problemas e das pressões que atingem os seus empregados viciados em trabalho. A descoberta da Síndrome de Burnout trouxe a luz da ciência sobre o tema e as pessoas já estão compreendendo que o excesso de trabalho é um assassino impiedoso e serial no mundo corporativo.
Meu conselho (para quem quiser segui-lo) é para aqueles que têm a obsessão pelo trabalho que leiam muito e informem-se mais ainda sobre a Síndrome de Burnout e seus correlatos. Ou procurem ajuda psicológica o que também é apropriado. 
Os "workaholics" não devem ser admirados ou invejados, na verdade eles precisam ser  orientados e auxiliados, pois são antes de tudo vítimas do sistema corporativo.

 http://robertodearaujocorreia.files.wordpress.com/2010/04/os-cuidados-com-o-excesso-de-trabalho.jpg?w=450


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