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segunda-feira, 21 de junho de 2021

Vícios e virtudes, interligados em nosso cérebro? É a ciência quem o diz. Será mesmo?



Há tempos, conheci uma matéria da Folha de São Paulo das mais interessantes para o nosso conhecimento como seres humanos. Sou daqueles que guardam as coisas que me interessam, principalmente textos de revistas e jornais; e em algum momento futuro vou dar buscas nos meus arquivos e gosto de reler o que guardei para ver se continuam tão atuais quanto na origem. O material(abaixo) é um deles.

Logo que li essa matéria me veio à mente a ideia de publicá-la aqui no blog o que efetivamente fiz, à época. O tema É  tipicamente um assunto que desperta a curiosidade das mentes inteligentes pelo aparente conflito que o seu título sugere. Virtudes e Vícios, andando - como irmãos siameses - nas mesmas vias em nossos circuitos cerebrais? Isso não deixa de ser uma imagem da antítese do pouco que sabe nossa vã filosofia (de leigos) a respeito do nosso cérebro, não é mesmo?

O que a reportagem da Folha nos apresenta é uma entrevista com o neurocientista David Linden,  um brilhante professor americano de neurociência na Universidade John Hopkins, em Baltimore, Maryland e  também autor de dois livros de sucesso que procuram explicar o funcionamento do cérebro humano em linguagem para o entendimento dos seres humanos leigos (e inteligentes).

No seu livro mais recente, "The Compass of Pleasure" (traduzido no Brasil como "A Origem do Prazer") Linden procura mostrar como as manifestações de prazer agem em nossos circuitos cerebrais independentemente de suas origens boas ou más. Ou seja, o prazer de uma boa ação ou o prazer de um vício trilham as mesmas vias em nosso cérebro.
Uau! É uma tese e tanto!

Só pelo título vê-se que o assunto tem uma complexidade que para nós, leigos na neurociência, é de alta complexidade; mas também é inegável que nos leva a uma enorme vontade de saber mais. Leiam o que disse o professor Linden em uma das suas respostas:
  • [...] "hoje sabemos que, do ponto de vista fisiológico e químico, o prazer que sentimos em atividades como correr ou fazer um trabalho filantrópico é o mesmo dos vícios. Há uma unidade neural de virtude e vício. E o prazer é a nossa bússola, não importa o caminho que tomamos" [...].  
 Que tal? Deu para despertar a curiosidade de conhecer um pouco mais do assunto? Então leiam a matéria que é excelente e muito instrutiva.
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Árvore das Virtudes

Virtudes e vícios dividem os mesmos circuitos no cérebro
Neurocientista mostra em livro que cérebro não discrimina prazer de jogo e bebida de atividades como filantropia (Entrevista David J. Linden)

CLÁUDIA COLLUCCI
EM WASHINGTON

O que o orgasmo, a comida gordurosa, o jogo, a bebida, a filantropia, os exercícios físicos e as drogas têm em comum? Sob o ponto de vista químico e fisiológico do cérebro, muita coisa.

Em seu recente livro, "The Compass of Pleasure" ("A origem do prazer"), o neurocientista David Linden, professor na Universidade Johns Hopkins, revela como agem os diferentes tipos de prazer nos circuitos cerebrais e como eles podem se tornar vícios.

"Há uma unidade neural de virtude e vício. E o prazer é a nossa bússola, não importa o caminho que tomamos", diz Linden, 50.

Ele afirma que há estudos experimentais para o desenvolvimento de uma vacina capaz de prevenir dependências em pessoas com predisposição genética. Os genes respondem por até 60% da vulnerabilidade ao vício.

Em um futuro distante, Linden aposta que haverá meios artificiais de ativar os mecanismos de prazer. "Talvez teremos algo como um capacete que ativará os circuitos cerebrais do prazer na intensidade que você desejar." 


Folha - Por que o sr. escreveu um livro sobre prazer?
David Linden - Todo mundo está interessado em prazer. As pessoas amam comida, sexo, jogos, drogas, exercícios. E o prazer é uma questão central no nosso sistema legal e governamental. Várias leis falam de prazer, quando regulam atividades sexuais, drogas ou jogos.
No entanto, hoje sabemos que, do ponto de vista fisiológico e químico, o prazer que sentimos em atividades como correr ou fazer um trabalho filantrópico é o mesmo dos vícios. Há uma unidade neural de virtude e vício. E o prazer é a nossa bússola, não importa o caminho que tomamos. 

Quando o prazer vira vício?
O prazer está associado à liberação de dopamina no cérebro. Esse neurotransmissor dispara quando ingerimos uma comida deliciosa, durante o orgasmo ou quando praticamos um ato generoso. A dopamina integra o sistema de prazer e recompensa.

Os genes respondem por até 60% da vulnerabilidade à dependência. Se você herda variantes desse gene que levam a baixos níveis de receptores de dopamina, isso o fará mais suscetível ao vício. É como se as pessoas ficassem doentes de prazer. 

O que acontece com o cérebro de uma pessoa dependente?
Se eu pedir para três pessoas com vícios diferentes escreverem sobre os sentimentos associados a essas experiências, você verá que são os mesmos.
Começam porque se sentem bem e, depois, vão precisando de mais e mais. Todo o desejo se transforma em necessidade.

A dependência gera mudanças estruturais, químicas e elétricas dos neurônios. Vamos dizer que você é alcoólatra e está "limpo" há três anos. Se você toma um drinque que seja, a sensação de prazer será muito maior para você do que para alguém que nunca foi dependente. 

Por que é tão difícil o tratamento do dependente?
O dependente costuma recair em períodos de muito estresse. Sabemos hoje que existem muitas atividades prazerosas, como a prática de exercícios físicos, de meditação, de rezas ou mesmo brincadeiras com os filhos, que podem ajudar a aliviar o estresse e as recaídas. 

O sr. acredita na possibilidade de terapias que evitariam a dependência?
Há pesquisas com animais para desenvolver uma vacina para pessoas com predisposição genética ao vício. Mas há muita polêmica, especialmente pelas questões éticas [de se medicar antes de o problema se manifestar].

No momento, não há muitas drogas eficazes para tratar as dependências. Mas acho que nos próximos 15 anos teremos remédios eficazes para as crises de abstinência. 

Mas chegaremos a ter uma droga capaz de curar uma dependência?
Não acredito que exista ou vá existir uma cura fácil. As pessoas fazem terapias em clínicas de reabilitação, mas estudos já mostraram que elas não são muito eficazes.
Psicoterapia e drogas podem ajudar. Mas internar a pessoa, deixá-la anestesiada por três dias e dizer que está curada, para mim, é mentira. Eles só querem seu dinheiro. 
 
O sr. acredita que a obesidade seja consequência de um vício em comida?
Sim. Nós gostamos de pensar em "metabolismos" para explicar por que ganhamos peso. Na verdade, 90% das pessoas que estão severamente obesas o são porque comem demais, não porque têm desordens metabólicas. Isso acontece porque seus cérebros são diferentes.

Nossos corpos estão adaptados para aquelas situações de milhares de anos atrás em que você precisava de muita gordura e açúcar porque você não sabia se teria comida na semana seguinte. Só assim você sobrevivia, tinha filhos e passava seus genes adiante. 

E a indústria aprendeu rápido como manipular nossos cérebros para comer mais alimentos que engordam...
É verdade. Nos EUA, a média de peso da população hoje está 11 quilos acima do que era na década de 1960. E não é porque nossos genes mudaram. Quando eu era criança, a garrafa de Coca-Cola era pequena, agora veja o tamanho dela! Quanto maior o tamanho das porções, mais você tende a comer e a beber.

As corporações aprenderam que certos sabores ajudam as pessoas a comer em excesso. Comer muitos alimentos gordurosos e doces, por muito tempo tempo, muda os circuitos do prazer do seu cérebro. Então você quer comer mais e mais. É parecido com heroína. 

A luta eterna do bem contra o mal
E as paixões, o orgasmo, também podem viciar?
Sim, o processo é bem parecido. A Universidade Albert Einstein, em Nova York, comparou o funcionamento dos cérebros de pessoas em novos relacionamentos quando elas olham para fotos do parceiro e para fotos de amigos. Não foi surpresa ver que há um disparo de dopamina ao olhar para a foto do amado.

Interessante também é que partes do cérebro têm funções desligadas nesses estados de paixão ou durante o orgasmo, especialmente aquelas áreas relacionadas à cognição e lógica. Quando estamos muito apaixonados não conseguimos fazer uma boa avaliação da pessoa. 

Qual será o futuro do prazer, especialmente na nossa atual sociedade em que é tão fácil encontrá-lo?
O acesso facilitado a coisas prazerosas, sem dúvida, aumenta o seu uso. Se você gostava de jogar, tinha que ir ao cassino. Agora, qualquer um entra na internet e pode jogar o tempo que quiser.

Em um futuro distante, penso que teremos meios de ativar nossos mecanismos de prazer de forma não invasiva, talvez algo como um capacete de beisebol que, colocado na cabeça, ativará seus circuitos cerebrais do prazer na intensidade que você deseja


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