FRASE DO DIA

FRASE DO DIA

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

"Felipão é demitido do Chelsea. (Parte II - Não usou a "formula da liderança")".


O que realmente aconteceu com Felipão?.
Não creio que existam dúvidas quanto à competência técnica de Luis Felipe Scolari. É um dos melhores do mundo na sua profissão e não precisa provar mais nada a respeito. Talvez o idioma? Difícil, pois os grandes times europeus são verdadeiras “legiões estrangeiras” onde se falam várias línguas.
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Quem sabe seu “fracasso” tenha sido a falta de adaptação ao modo de vida e à cultura inglesas.? Não! Não foi isto. Ele já está há muitos anos na Europa e na sua profissão não existe esta opção de escolher lugar para trabalhar. A propósito, Felipão já disse que ficará residindo em Londres, logo...
Então, onde está a verdade?
Vou dar um testemunho pessoal (olha só a minha pretensão!). Semanas atrás assisti, integralmente, ao jogo entre o Chelsea (de Felipão) e o Liverpool. O time do Scolari perdeu o jogo (acho que por 2 a 0). Como disse, vi o jogo e - modéstia à parte - não sou um "curioso" como espectador de futebol. Além de ter sido, por oito anos, em Recife, profissional de imprensa (radialista) quando jovem, amo o futebol e acompanho tudo desde antes da copa de 1958.
Posso dizer (e não fui o único a fazê-lo) que os jogadores do Chelsea estavam, dentro de campo, boicotando o trabalho do seu técnico (comandante). Ficou visível durante aquela partida.
Quem conhece comportamento de grupos, sejam de atletas, de empregados corporativos, de seres humanos em geral, sabe perfeitamente quando a insatisfação está presente no espírito coletivo no conjunto. E quem entende, por pouco que seja, de futebol identifica claramente quando um time não está "dando o máximo" dentro de campo; quando está "pisando no freio"... Foi isso que vi no Chelsea naquele jogo. Eu e diversos jornalistas que transmitiram o jogo. Dai em diante, comentei com amigos, a saída de Felipão era questão de tempo. Não deu outra.

Quem errou?.
Certamente que o grupo cometeu o mais ultrajante das traições. A infidelidade coletiva. Não existe deslealdade maior do que essa. Empresas quebram, famílias se desintegram e agremiações se pulverizam quando a deslealdade se manifesta de forma coletiva contra o centro do comando, contra quem está com as rédeas na mão. É como se numa "carruagem os cavalos se recusassem a aceitar os comandos do cocheiro" e se dirigissem para o despenhadeiro.
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Desculpem a metáfora meio grosseira, mas confesso a minha repulsa ao falar do assunto. A propósito, já fui vitimado por essa falsidade corporativa. Todavia, respondendo objetivamente à pergunta sobre "quem errou", não posso deixar de atribuir ao Felipão a maior parcela no preparo desse amargo cálice que ele agora experimenta (caso raro na sua carreira pois não lembro dele ter sido demitido anteriormente).
Mas como, onde e por que Scolari errou?.
As coisas na vida sempre são mais simples do que aparentam. O que vou dizer não é novidade e serve para qualquer profissional com (comprovada) carreira de sucesso que assuma um novo cargo, desafiante, para obter resultados em função de seu histórico e da sua fama. Sugiro que leiam o meu post (A "Fórmula da Liderança").
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Acho (e não posso ir além de um mero "achismo") que Felipão se esqueceu de aplicar a fórmula [L= f (s, g, l)]. Creio que ele manteve a mesma postura que o levou ao êxito no Brasil e em Portugal (onde, aliás, o desgaste já estava em curso). Ou seja, não considerou que duas das variáveis da fórmula, o "g" (grupo) e o "s" (situação), se modificaram. Erradamente não utilizou a mesma "taxa de variação" para a terceira variável, o "l" (líder), ou seja, ele mesmo, seu comportamento, sua estratégia para conquistar um novo grupo em meio a uma nova situação.
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Imaginem o Felipão querer implantar a filosofia da “família Scolari” em um grupo cujo elenco tem jogadores que são, (quase) todos, estrelas nas seleções nacionais de seus países e com nomes e nacionalidades como Petr Cech (tcheco)- Ivanovic (sérvio)- Ashley Cole (inglês) - Franco Di Santo (argentino) - Drogba (costamarfinense) - Ricardo Carvalho (português) - Frank Lampard (inglês) - Ballack (alemão) - Anelka (francês) e Alex (brasileiro). Chega? E vem o “Big Phil” para transformar essa “turma” em uma família? Fala sério!
Líder "antigo" não funciona para situação "nova".
Final da história: o mesmo Felipão, dos êxitos anteriores, não serviria jamais (e não serviu mesmo...) como parâmetro para a nova realidade que enfrentou e ele, aparentemente, não considerou esta perspectiva no planejamento aoassumir o Chelsea. Foi seu erro fatal.
Como não se deparou com um grupo motivado para “jogar com o coração” (tipo seleção nacional) devem ter estranhado o jeitão do novo “coach”. A reação foi fazer o famoso “corpo mole” para provocar a demissão do treinador.
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O grupo – com as exceções de praxe - mostrou-se incrivelmente imaturo e desleal com quem foi contratado para comandá-lo. Os atletas foram, claramente, pouco profissionais. O fracasso do comandante tornou-se inevitável. Ou seja, boicote com todas as letras. Quem vai indicar o grau e a potência deste "fogo amigo" que Scolari enfrentou será o comportamento do grupo diante do próximo treinador. Provavelmente um cara mais adaptável, mais camarada, que não exija muito das estrelas e seja "amigo" do dono do clube.
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.Do lado de cá da fama as coisas acontecem da mesmíssima forma. Já disse acima que ocorreu comigo (e confesso que cometi - embora conscientemente - o mesmo erro de não modificar o "l" da fórmula). Também já vi acontecer este boicote outras tantas vezes. E, por outro lado, assumi funções onde tive que me adaptar à cultura do grupo para consolidar meu comando e minha liderança.
Meus conselhos, para quem enfrentar situação semelhante, são os seguintes:
  1. Avalie se vale à pena modificar-se para conseguir o apoio do grupo. Às vezes o nível estará tão baixo (corrupção, imoralidade e dissolução) que não vale o sacrifício. É melhor pular fora.
  2. Se achar que compensa enfrentar a corporação (partindo do princípio que ela é saudável) então não se movimente com muita agitação no início da sua gestão. Não modifique layouts, mesas e divisórias. E, de preferência, nem a secretária. Adapte-se ao ambiente que encontrar. Você terá muito tempo para cuidar destas “miçangas”...
  3. Nos primeiros dias deixe o ritmo antigo fluir. Seja muito mais um espectador do que um ator. Não se dê a conhecer facilmente, não tenha e nem faça "confidentes". Eles lhe “venderão” aos colegas e depois será difícil desatendê-los.
  4. Estude muito e tudo a respeito da sua nova função. Pergunte muito e queira saber tudo, do tipo quem? Quando? Onde? Por quê? Só depois de haver mapeado a sua nova "selva" arrisque-se a explorá-la mais profundamente.
  5. Surpreenda sempre com suas atitudes e decisões. Não se deixe ser previsível. Seus novos comandados procurarão sempre descobrir um padrão de comportamento em você.
  6. Se o grupo lhe “conceder” o “certificado” de líder, finalmente chegará o momento de colocar sua marca pessoal nas operações do setor. Não perca essa oportunidade. Aja rápido. É uma zona de transição que passa como um bólido à sua frente. É neste ponto que você fará as modificações que julgar necessárias e escolherá seus “colaboradores de confiança”.
  7. Não descuide um só dia de manter a pressão no ponto certo para conseguir a produtividade exigível. Aquela história de “matar um leão por dia” é verdadeira. Se você não “matar o leão de hoje” ele lhe atacará amanhã e já serão dois para matar. Imagine o que ocorrerá quando você não der conta de matar todos os leões que se acumularam nos dias anteriores...
Fico por aqui com uma recomendação importantíssima. Não vá aceitando de cara uma proposta que pareça irrecusável. Analise-a muito bem para avaliar o quanto você terá que modificar-se nas variáveis da fórmula da liderança para alcançar o sucesso que seus contratantes estão esperando de você.
Para colocá-lo nas posições de destaque são muitos os padrinhos, mas depois que você estiver lá dentro da jaula, sozinho com as feras não vai aparecer ninguém para ajudá-lo. Será você e sua circunstância, como disse Ortega e y Gasset.

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