Já
escrevia Saint-Exupéry em o "Pequeno Príncipe" que "O
essencial é invisível aos olhos e só se pode ver com o coração".
Também
no mundo corporativo - tal como na vida cotidiana - existem coisas que são invisíveis
aos olhos e às percepções. Não direi que só podemos vê-las com o coração, pois não é bem
assim.
As
fadas e os elfos não existem no universo das empresas. Ali é a realidade dura
que impera embora sejam necessárias boas doses de truques, magias e feitiçarias
gerenciais para que os gestores sobrevivam com sucesso em suas carreiras,
mas não existem "varinhas de bruxos" - como aquelas de Harry
Potter e seus companheiros - para ser vendidas nos mercados frequentados
por gerentes.
- “Um grande desafio para os líderes é trazer o invisível para a mesa de decisão e para o dia-a-dia das pessoas e das organizações que dirigem"
Esta
é uma das muitas provocações que estão no texto de Oscar Motomura
intitulado "Gestão do Invisível" que vocês podem ler a seguir.
Recomendo que leiam com atenção redobrada, releiam e leiam novamente. Não é na
primeira passagem que compreendemos, na plenitude, os conceitos (muitos deles
ocultos numa leitura desatenta) que estão no texto de Motomura.
Prestem
muita atenção à lista dos custos invisíveis que Motomura sugere ao final do
artigo. Sugiro que a copiem e façam dela uma leitura constante. É preciosa.
Procurem fazer suas reflexões e a partir da lista e descubram os "monstros
ocultos" que rondam suas competências como gerentes.
Só para
provocar cito alguns deles: desarmonias e desgastes interpessoais no
dia-a-dia, politicagens, fofocas, boatos, críticas destrutivas, boicotes e
resistências, competições predatórias, controles excessivos, busca de
status, sistemas obsoletos, falta de criatividade, reinvenção a roda e
muitos outros. É de assustar não é mesmo?
Considero esse artigo de Oscar Motomura um dos mais importantes para qualquer executivo ou candidato à carreira. Ele aborda com a maestria de sempre um tema que não se verá desenvolvido em nenhum outro consultor. É brilhante! Texto para ser guardado e relido de tempos em tempos.
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Gestão do Invisível
*Por Oscar Motomura
"No filme “Maré Vermelha”, com Gene Hackman e Denzel Washington,
o conflito entre os principais personagens - o comandante e seu
principal oficial - é gerado por uma questão de percepção. O submarino
nuclear está recebendo uma mensagem do alto comando. A transmissão é interrompida logo após a introdução. Sabe-se que a mensagem diz respeito ao lançamento de mísseis.

Um
grande grupo financeiro, conhecido por seu pioneirismo na área de
tecnologia, realiza uma profunda reorganização. Num efeito colateral imprevisto,
seus funcionários perdem a confiança no conjunto de valores que fazia
da empresa um dos melhores lugares para se trabalhar. O grupo continua
como um dos mais avançados do mercado em tecnologia e seus resultados
ainda são bons, mas seus melhores talentos estão aos poucos deixando a
empresa e os universitários, que antes faziam fila para juntar-se ao
grupo, agora parecem preferir outras opções.
Uma
empresa de consultoria tem crescido exponencialmente seus investimentos
em gestão do conhecimento. As soluções criadas pelos consultores são
rapidamente incorporadas a um “banco de ideias”, tendo como objetivos
evitar a reinvenção da roda, trazer maior velocidade ao processo de
análise e solução de problemas e reduzir custos. Não obstante todo
esse esforço, a empresa está perdendo posição no mercado. Parece que o
“banco de ideias” não está conseguindo capturar o “x” dos projetos de
sucesso.
Uma
empresa na área de serviços tem conseguido resultados excepcionais
investindo na criação de uma cultura em que o interesse pelo cliente não
é algo apenas protocolar. Cada funcionário trabalha
com interesse genuíno pelo bem-estar dos clientes. Sua principal
concorrente tem copiado suas melhores práticas, mas não vem conseguindo
bons resultados.
Por
iniciativa de um grupo de cidadãos, a cidade de Franca, em São Paulo,
realizou há tempos uma intensa campanha batizada de “Viva Franca” com o
objetivo de elevar a motivação de todos os seus quase habitantes. A premissa do movimento é que um povo energizado consegue
enfrentar todos os desafios conjunturais, por mais árduos que sejam.
A
cidade de Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul, conseguiu criar soluções bastante imaginativas, engenhosas e eficazes
para seus desafios econômicos e sociais a partir da “descoberta” dos
ativos que existem na região.
Novos
conhecimentos estão permitindo que seus moradores descubram usos
inéditos de tudo que é abundante na região e não era sequer considerado
útil.
Uma
empresa líder em seu ramo está começando a perder terreno e declinar.
As conversas de corredor revelam que a briga por poder está se
acirrando. Há muitos “feudos” competindo entre si e os “subterrâneos” da
empresa estão ficando cada vez mais pesados: muita fofoca, politicagem
e jogos desleais. O mais surpreendente de tudo é que a diretoria parece
ignorar tudo isso. “Lá em cima” ninguém fala sobre essas coisas.
A
empresa “A” vem apresentando resultados modestos nos últimos anos, mas vem se fortalecendo cada vez mais, realizando muitos
investimentos em novos produtos, na busca de conhecimentos, em
tecnologia de ponta, na criação de embriões de novos negócios, na
formação de novos talentos para o futuro. A empresa “B”, sua principal
concorrente, tem sido a melhor em resultados (faturamento e lucros) nos
últimos anos. Contudo, o seu investimento no futuro tem sido
praticamente nulo.
Todos
esses casos ilustram a gestão do invisível contraposta a uma gestão
centrada em torno dos dados concretos, visíveis, quantificáveis e
“reportáveis” nos demonstrativos e sistemas de informações tradicionais.
Até
que ponto a gestão de empresas e mesmo de países contempla o invisível?
Até que ponto essa omissão explica muitos dos problemas concretos que
vemos ao nosso redor na gestão privada e pública?
Até
que ponto estamos formando executivos que só conseguem lidar com o que
está explícito – como o capitão do submarino – e que são insensíveis ao
não-visível?
Essa
ênfase quase total no concreto não estaria levando empresas a ignorarem
fatores-chave como a confiança das pessoas na empresa, em seu propósito
e valores, em seus líderes?
Ao
trabalharmos qualidade, sabemos se cada colaborador está genuinamente
interessado pelos clientes? Sabemos como está a motivação de toda a
equipe no dia-a-dia ou nos contentamos com pesquisas de clima feitas a
cada ano?

E
quanto ao processo criativo em andamento em nossa organização, em nosso
país? Quantas ideias excelentes ficam pelos corredores? Quantas pessoas
criativas estão bloqueadas pela rotina massacrante do curto prazo?
Quanto da energia vital da organização, do país, está se esvaindo por
falta de uma gestão mais envolvente, estimulante, participativa?
O
ponto-chave dessas reflexões é: o que, na verdade, estamos efetivamente
gerenciando nas organizações e no país? Gestão do quê? Parece que o
foco da gestão ainda está fortemente vinculado ao visível, ao concreto,
ao quantificável. O grande desafio da gestão parece
estar em descobrir como atuar sobre o todo, tanto o visível como o
invisível. E o invisível no sentido mais amplo, que transcende em muito o
tradicional intangível. Não estaria a essência das organizações e do
país exatamente nos aspectos invisíveis do seu ser?
O
grande desafio para os líderes é trazer o invisível para a mesa de
decisão e para o dia-a-dia das pessoas. Veja no quadro um exemplo de
ferramenta que visa tornar o invisível mais gerenciável. O tópico
escolhido para essa ilustração é o dos custos invisíveis. Em nossos
cursos usamos esse material na forma de um baralho que pode ser levado à
mesa de decisões na empresa. Aqui ele está expresso sob a forma de um
checklist. Que tal usar esse material como fonte de inspiração para
criar outras ferramentas que tragam o invisível para dentro de seu
processo de gestão?"
Checklist de Custos Invisíveis
( ) Custo da desarmonia e dos desgastes interpessoais no dia-a-dia
( ) Custo da politicagem, das fofocas, dos boatos, dos “subterrâneos”
( ) Custo do clima pesado e da crítica destrutiva
( ) Custo dos boicotes e das resistências
( ) Custo da competição predatória, da ausência de cooperação
( ) Custo da falta de autenticidade
( ) Custo da desconfiança e dos controles excessivos
( ) Custo da falta de persistência e de aceitar o “mais ou menos”
( ) Custo da acomodação pelo excesso de recursos
( ) Custo da arrogância que bloqueia a aprendizagem
( ) Custo da falta de austeridade
( ) Custo do ostentatório, do exibicionismo, da busca de status
( ) Custo da não-reciclagem
( ) Custo da “qualidade a qualquer preço”
( ) Custo da postura de não ligar, de não se importar
( ) Custo da desmotivação, da falta de pique das pessoas
( ) Custo da acomodação pelo sucesso alcançado no passado
( ) Custo do excesso de dados, da “poluição informacional”
( ) Custo da falta de diálogo e de sintonia
( ) Custo dos mal-entendidos e da comunicação deficiente
( ) Custo do não se importar com o amanhã e focar no curto prazo
( ) Custo da “liderança” ausente
( ) Custo da ineficácia, do amadorismo, da pessoa errada no lugar errado
( ) Custo do não usar bem os talentos que tem
( ) Custo dos ativos ociosos
( ) Custo do mau uso dos recursos da empresa
( ) Custo do turnover de pessoal
( ) Custo da “taxa de urgência” e do fazer na última hora
( ) Custo do estar estruturado para picos
( ) Custo do isolamento e da falta de parcerias e sinergias
( ) Custo das gorduras estruturais
( ) Custo das superposições de pessoas e áreas fazendo a mesma coisa
( ) Custo da falta de coordenação e da não-otimização
( ) Custo das estruturas mal idealizadas, superadas, dessintonizadas
( ) Custo dos sistemas obsoletos
( ) Custo da falta de criatividade
( ) Custo do “reinventar a roda”
( ) Custo do que se deixa de fazer, da procrastinação
( ) Custo do fazer o que não é mais preciso ou necessário
( ) Custo do descontrole
( ) Custo da desordem
( ) Custo do refazer, do corrigir, do compensar erros
( ) Custo da tecnologia obsoleta
( ) Custo da manutenção excessiva
( ) Custo da baixa produtividade
( ) Custo dos desperdícios no dia-a-dia
( ) Custo da burocracia
( ) Custo da lentidão, da demora para decidir
( ) Custo da superficialidade das análises e decisões
( ) Custo do “não pesquisar o melhor preço da praça”
( ) Custo das negociações mal feitas, pouco refinadas e com baixo nível de aspiração
( ) Custo do desequilíbrio entre “fazer dentro” e “comprar de fora”
( ) Custo da conveniência e segurança dos estoques altos
( ) Custo do inacabado, do começar muita coisa e não completar
OSCAR MOTOMURA
é fundador e principal executivo do Grupo Amana-Key, um centro de
excelência em gestão de alcance mundial com núcleo em São Paulo, Brasil.
A Amana-Key é uma organização que se propõe a estar sempre na vanguarda
do processo de criação de “produtos de conhecimento” - na área de
gestão, estratégia e liderança - dirigidos a executivos de organizações
empresariais, governamentais e não-governamentais.
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